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AMOR AO TRABALHO


(Paula Elisabete Cerioli, Escritos de Fundação, cap. VIII, pp. 117-118)


  • Depois do pecado de Adão Deus nos condenou ao trabalho, e a própria família do Deus feito homem não escapou a esta lei. José trabalhava e com o seu trabalho devia manter a sua casta esposa e o menino Jesus; a própria virgem trabalhava sem parar para a sua santa família; e o bom Jesus, ao passo que crescia em idade, ajudava o seu pai adotivo no seu trabalho pesado. Quando a fadiga vos cansa ou a qualidade do trabalho vos abate, estes exemplos admiráveis vos sirvam como estímulo para avançar com coragem no caminho iniciado e que escolheram; este vos guiará para a vida e a salvação.


  • Não façais questão do tipo de trabalho, aquele que a obediência vos dá vos seja muito caro, mas se for possível, escolhei aquele que mais é contrário às vossas inclinações, e mais mantém baixo o vosso amor próprio, antes que aquele que mais vos agrade e gostais. “Trabalhai de coração e com gosto, como quem trabalha para o Senhor e não pelos homens...” (Ecle...).


  1. Não é trabalho de mérito o que fazeis tão mal, sem amor e sem cuidado e atenção, nem o outro feito com muita preguiça, sem boa vontade e fora do tempo. Vos fizestes pobres por eleição, que vorgonha se quisesses descansar e viver às custas da Congregação com prejuizo para as vossa Filhas. Entre todos os trabalhos da Comunidade consderai o da agricultura como o principal, e como tal tenhais para este a maior paixão e precurai e desejai de estar ocupadas neste. Não vos afaste deste nem o cansaço, nem o respeito humano, nem outra coisa que poderia vos sugerir a vossa delicadeza e o vosso amor próprio.


  • O Senhor ajuda a boa vontade e dá a todos aquela força e aquela disposição aos trabalhos e ministérios aos quais vos chamou, e a dará a vós também se lho pedirdes com a acção e com a oração. Cansava-se no trabalho um bom religioso, talvez não acostumado a isso na sua família, e apoiando-se na parede cochilava; mas um bom irmão que estava perto dele, acordando-o com delicadez dizia-lhe: irmão, descansarás na Casa do nosso Pai. Sim, irmãos, na Casa de nosso Pai descansaremos do trabalho do dia para Ele enfrentado, e lá ser-nos-á dada a nossa recompensa.


  • Além do trabalho da machamba, procurai tornar-vos hábeis em outros trabalhos para o bem da Congregação e para providenciar quanto mais puderdes ao vosso mantimento, mas prestai bem atenção de não querer instruir-vos naquilo que não deveis e o Superior acha bem que não façais. Tenhais certeza que neste caso o Senhor não ajuda a boa vontade, porque contrária à obediência, e conseguido com meios impróprios.


  • Isso vos acontecerá também com relação aos estudos, que nesta Congregação não a todos são permitidos. O demónio, advogado fecundo do nosso amor próprio, vos fará acreditar que aquele desejo que sentis de ser instruidas no ler e escrever será fruto de interesse e zelo de ajudar a Congregação, mas isso não é se não vaidade e inveja, porque às vossas companheiras ensina-se e procura-se habilitá-las para os estudos e a vós não. E talvez seja um desejo secreto, que se pudésseis conseguir no ler e escrever, seríeis depois postas na escola, apascentando assim o vosso amor próprio, e talvez para ser isentadas dos trabalhos da machamba e de outras ocupações pesadas e baixas que vos pesam e vos humiliam, embora nasceram camponesas ou pouco mais, coisa que depois procurais esconder por vorgonha que alguém o saiba. Dai pedidos e pedidos à Superiora, para poder aprender a escrever, e queixas e talvez algo pior, porque a mesma, que bem vos conhece, e sabe que poderia ser de dano ao vosso proveito espiritual, acredita que seja bem negar esta permissão e deixar-vos na ignorância.


  • Acreditai que é assim: o nosso amor próprio é tão experto que por vezes nos faz ver branco o que é preto e preto o que é branco e com tal habilidade que não uma só vez ficamos nós mesmas enganadas. Uma regra porém quase segura, para saber se o vosso desejo de vos instruir nisso ou naquilo vem de Deus, olhem se o que desejais aprender vos abaixa com relação à vossa condição,  pois se vos eleva e for superior à condição do vosso nascimento, tenhais certeza que haverá como raiz a vaidade; esta raiz é profunda, mas não vos fugirá, se vos examinardes bem na frente de Deus, com olho atento e com desejo de alcançar o vosso bem espiritual.