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O Carisma Sagrada Família

e  a espiritualidade no qual se exprime

 

INTRODUÇÃO

A espiritualidade da Cerioli como expressão aguda da espiritualidade do seu tempo

Quando falamos da espiritualidade de um carisma è necessário lembrar que ela è a síntese momentânea da experiência e da cultura religiosas do tempo no qual se exprimem e do conjunto dos traços específicos da personalidade daquele(a) que a vive. O contexto cultural, no qual todo mundo vive, por um lado forma a pessoa e por outro a solicita a responder as interpelações da fé de maneira de constituí-la protagonista elaboradora de sempre novas sínteses espirituais. Porém nem sempre viver a fé de maneira pessoal e heróica leva a uma originalidade única: isso não è excluído – vejam São Francisco, Santo Inácio, São Francisco de Sales – mas não è o caso de todos os Santos.

Além disso no que diz respeito a uma Fundadora a questão è mais complexa, ela pode não ter aberto um caminho de espiritualidade absolutamente original e universal tal de constituir um ponto de referência e um modelo inspirador de experiências cristãs da Igreja universal, mas, pelo fato de ter inaugurado um caminho e ter se tornado ponto de referência para a vida de alguns discípulos, a experiência dela e o caminho dela marcam necessariamente aqueles dos seus religiosos/as. Naturalmente os seguidores desta experiência espiritual se colocam à sequela de Jesus Cristo vivo nos seus corações por meio do Espírito Santo, mas dentro do sulco traçado pelo fundadora. Eles lêem esta experiência sempre dentro do horizonte eclesial maior, evitando o perigo de se concentrar a tal ponto sobre o Carisma da Fundadora de parar à sua santa em vez de fixar, através dela, o olhar, sobre Cristo, mas a maneira deles de edificar a Igreja não poderá ser se não conforme o Carisma recebido.

Colocada dentro uma história concreta, a experiência espiritual que sintetiza a figura da vocação Sagrada Família, leva portanto em si a marca da situação histórica que a exprimiu e na qual começou, em quanto se revela memória de Cristo no seu presente histórico, tendo assim uma efetiva capacidade de ser ponto de referencia para outros momentos históricos, sucessivos e diferentes. Geralmente – e a experiência carismática Sagrada Família faz não exeção – tal memória è possível colhe-la também como exemplificação de um discernimento perspícuo vivido da experiência da Cruz e na proximidade afetuosa da criatividade do Espírito, de maneira que quem faz tal experiência espiritual colocando cada coisa à prova numa concreta história, depois decide, escolhendo conforme Jesus Cristo, a Sua bendita e salvífica proximidade ao homem concreto.

Se compreende então, que para falar da espiritualidade do carisma Sagrada Família temos que tomar em conta a espiritualidade lombarda da primeira metade do século XIX, o consistência da personalidade humana e religiosa da Cerioli que a exprimiu junto com o seu testemunho e as suas obras. No que diz respeito ao conjunto dos elementos que caracterizam religiosamente o tempo, a figura e a obra da Fundadora têm uma importância especial os acontecimentos históricos que marcaram a vida dela no tempo da experiência da fundação. Como já foi tratada a problemática histórica acerca da figura e da obra da Cerioli (cf. Quaderni per il Rinnovamento Vol. 1, 1994) e o tema da espiritualidade do século XIX (cf. Quaderni per il Rinnovamento Vol. 3, 1997 págs. 13 – 75 ), desenvolvemos os nosso assunto partindo mesmo pelos acontecimentos extraordinários que imprimiram à sua vida uma viragem radical que está na base da vocação Sagrada Família. Podemos dizer que os anos mais decisivos para a elaboração do Carisma e da espiritualidade que o caracteriza são aquelas entre o ano 1854 e 1862, ano da aprovação canônica por parte do Bispo Pietro Luigi Speranza da sua nova instituição.

Naturalmente não se poderia compreender o denso significado destes acontecimentos sem considerar a sua relação com a personalidade religiosa da Cerioli que tinha se formado a partir de uma infância, uma adolescência e uma juventude familiares muito empenhadas na fé, tão como da sua vida de esposa tribulada, mãe tragicamente privada de todos os filhos e por fim de viuva sozinha e desesperada. Deve-se considerar significativos os anos 1858 – 1865 fervidíssomos de empenho apostólico que visava fundar as muitas atividade religiosas do ramo feminino e daquele masculino começado no 1863.

 

I PARTE

A ESPIRITUALIDADE DO CARISMA “SAGRADA FAMÍLIA”


1. O papel do “discernimento espiritual” praticado pela Cerioli para vivificar a fé batismal, determinar a escolha precisa do estado de vida e escolher um apostolado especifico

Uma característica absolutamente central no desenvolvimento e na expressão do testemunho Carismático da nossa Fundadora que emprenha toda a sua espiritualidade é a constante e corajosa dedicação ao discernimento do espírito na entregue confiante de si mesma aos dois bispos que a orientaram espiritualmente: Pietro Luigi Speranza e de maneira mais continua Mons. Alessandro Valsecchi. Tal discernimento consiste numa grande docilidade e docibilidade em relação com estes guias espirituais, mais também no empenho em viver constantemente na estabilidade da fé que é recolhimento interior, consagração de si mesma ao Evangelho e luta aberta contra cada tipo de dissipação.

Como tal estado continuo de tenção espiritual não é possível às forças humanas sem recorrer a instrumentos particulares a fundadora recorreu de boa vontade ao conselho inaciano dos exercícios espirituais frequentes para alimentar e proteger o tesouro de fé guardado no vaso de argila da sua personalidade que ela sabendo frágil e insegura, deixa de boa vontade modelar pelo divino oleiro. No 1857, por exemplo, ela junto com as suas primeiras seis companheiras fará três cursos diferentes de exercícios espirituais por um total de 30 dias nos quais recebe iluminações carismáticas operativas, conforto e energia decisivos para começar a sua obra, enquanto no seu intimo continua suplicando ao Senhor desta forma:

“Senhor, desfaze-me e depois refaze-me até que eu não viva senão para vós... Senhor, mudai-me, transformai-me, atraí-me para vós, ó Senhor !...Senhor, que quereis que eu faça? Vamos! Fazei-me conhecer a Vossa Santíssima Vontade, fazei-me dócil a cada desejo Vosso.” (A. Longoni, Memórias da vida da bem-Aventurada Paola Elisabetta Cerioli Fundadora dos Institutos da Sagrada Família de Bérgamo, 65).

Assim, se na sua primeira adolescência no meio dos sofrimentos de um crescimento marcado por separações, incompreensões, rigidez parental e solidão do convento de Alzano foi fundamental o encontro com a espiritualidade de São Francisco de Sales, que abria o coração dela a uma proximidade divina mais doce, afectuosa e universal, sucessivamente, graças sobretudo à influência dos sacerdotes bergamascos, ficar-lhe-á cada vez mais familiar a referência inaciana. Nela, como se sabe, tinham um lugar especial o discernimento, a guarda do espírito de sacrifício, o silêncio e o recolhimento, a humildade, a pobreza, a simplicidade e o mistério da severa justiça de Deus junto com aquele da cruz que nele se torna cada vez mais evidente como a única verdadeira sabedoria da vida.

Com efeito às suas discípulas desejosas de seguir a Cristo na sua Instituição no rito da primeira profissão entregava uma cruz dizendo: “se imprima no vosso coração e vos torne generosas e fortes para seguir a ele todos os dias da vossa vida” (P.E. Cerioli, Scritti, 207) Com este discernimento os acontecimentos que marcam a vida da fundadora são por ela constantemente interpretados através da fé como intervenções da Providência de Deus que de maneira paternal e afectuosa guia a história particular das pessoas. Desta forma ela era habilitada a pensar pelo contexto religioso do seu tempo, tão profundamente assimilado pelos amorosos ensinamentos, não sempre tenros mas pontuais, dos seus orientadores que escreviam a ela:

“...A boa disposição em que Deus a mantém de amá-lo e servi-lo é a maior recompensa que poderia dar-lhe por tudo que tem feito e sofrido por Ele, agradeça-o, portanto, de todo coração. Procure servir a Deus todas as vezes que se apresentarem ocasiões de exercitar a abnegação ou a caridade, seja nas pequenas ou nas grandes coisas, mas seguindo calmamente as ordens da Providência, sem querer antecipar o tempo ou a graça de Deus. É necessário que sempre sejamos donos de nós mesmos e recordar-se sempre que Deus é aquele que dat velle et perficere (dá o querer e o cumprir) e, que da nossa parte devemos cuidar de não opor resistência à graça de Deus.” ( A.Valsecchi, carta do 2 de Julho de 1854, citada no Longoni pg, 57).

A ordem da Providência era precisamente a vontade de Deus a procurar em cada coisa e com todo o custo, como no mesmo período e depois de poucos dias o guia espiritual ainda repreendia:

“De resto, não tenho outras coisas a dizer-lhe a não ser repetir as mesmas recomendações, convidando-a a compenetrar-se o mais profundamente possível da vontade de Deus, repetindo freqüentemente aquelas palavras tão simples e tão sublimes que estavam sempre nos lábios do seráfico S. Francisco: Deus meus et omnia – Meu Deus e meu tudo. Que luz, que riqueza, que prazer, que paz nestas palavras! Faça-as suas, mas de coração, evite tudo que possa torná-la diferente dos outros, pratique a abnegação toda vez que se apresentar uma oportunidade, purifique cada vez mais as suas intenções, dirija-se a Deus a todo momento...”(A.Valsechi, carta do 5 de Outubro de 1854, citada em Longoni, pg, 58).

Convites que a Cerioli tomava muito ao sério considerando-os verdadeiras indicações vitais e dedicando muitos esforços para assimila-los com docilidade e confiança, assim como confirma um seu escrito de meses depois, quando ainda estava abalada e perturbada pela perca do pela irrevogável perca do amado filho. Condição psicológica que, mesmo assim, não a distraia da disciplina do discernimento operado pelo sue orientador espiritual. Com efeito escrevia:

“Quando está dor acabara de afligir-me? Quando terei maior amor de Deus, compreendo-o, e espero com o passar do tempo mediante a Sua santa graça e a intercessão da Virgem Santa de consegui-lo e então poderei dizer não só com o desejo mas com verdade, meu Deus meu todo; procurarei de minha parte merece-la seguindo a sugestão do senhor colocando em prática a resignação a paciência que é tão necessária para mim e tão falha, a pureza de intenção...” (Cerioli, 30 de Outubro de 1854)

Discernimento absolutamente não fácil nem previsto, se o bispo chega também a dizer-lhe:

“Olhe que você está impedida e amarrada, não quero dizer por fios de estopa, mas por fios de aranha. Livre-se de tudo... Você diz estar disposta a não fazer outra coisa que não seja a vontade de Deus, e estar pronta a só procurar o melhor para fazer, mas, na verdade acredito que esteja ligada e impedida, não me parece entretanto vazia e morta, nem desapegada de tudo, como deveria estar. Tantos cuidados, tantos pensamentos, tanta importância que dá a coisas que não passam de bagatelas! Faz-me pena, deveras! Desapegue-se, morra para essas coisas, pense em sua alma, o mundo não é nada, e para você também são nada os bens dos quais pode dispor neste mundo... Procure morrer para tudo, desapegue-se de tudo e de você mesma... Jesus no coração, eternidade na mente, mundo sob os pés e sobretudo, amor, amor a Deus... Você está impedida, amarrada e pode ser de Deus enquanto não morrer.”( Pietro Luigi Speranza, carta do 4 de Fevereio de 1855, citada em Longoni, pg 62).

“Dispa-se, morra...”era o convite brutal do bispo para ela absolutamente ncessário para revestir a nova humanidade. Por outro lado tais durissimas admoestações em outras ocasiões tornar-se-ão profundas e quentes palavras de luz e ternura:

“Viva sossegada e tranqüila e não queira nem ter medo nem duvidar. Considere-se como filha do Senhor: ame-o e reverencie-o comom Pai e opere segura como filha dele. Deus abenço-o-a e abençoa-la-a; eu rezo que a abençoe amorosamente com toda a sua casa e família”(Pietro Luigi Speranza, 16 de Fevereiro de 1857)

A orientação espiritual dos seus Guias dentro de não muito tempo produz uma seqüela corajosa e firme, embora tormentada. Por outro lado a fé não limita o espaço do espírito nem faz sentar uma pessoa a berira da estrada esperando que o Espirito passe por ai quase obrigando a passar. A fé é resposta feita de obediência ao Espirito para servir a glória de Deus sendo um instrumento concreto da sua salvação para o homem. Deus tem a sua glória no homem e assim, como já apareceu de maneira definitiva no seu filho na cruz, será no caminho dos sofrimentos esxigidos pelo amor de doação que encontrar-se-a Deus e o homem. Neste sentido é interessante refletir sobre uma pessoal confissão feita por escritos pela própria Cerioli:

“ As poucas vezes que sinto devoção e experimento algo do amor de Deus, coisa que acontece quando olho para o céu com recolhimento ou quando fico imaginando como seja esse céu. Por exemplo, se estou na Igreja, que me representa Jesus Cristo na sua Humanidade, então sinto um grande desejo de assemelhar-me a Ele e a seguí-lo sobretudo nas perseguições, cruz, humilhações e sofrimentos . Muito embora a minha natureza recuse, sinto-me estimulada a rezar ao Senhor para que me faça experimentar, como de fato rezo, mas com temor. Como pode tudo isto combinar, Excelência, com minha pouca mortificação, quando se trata de ter paciência e suportar os defeitos do próximo, especialmente das minhas companheiras, como lhe direi mais adiante, e quando se trata também de calar-me, ao invés de dizer palavras inúteis? Não posso pensar nas imensas graças que Deus proporcionou-me sem experimentar no meu coração uma grande comoção e ternura em relação ao Senhor e isto eu também sentia em meio aos meus maiores tormentos, porque então o Senhor dava-me mais amor Mas o meu caráter inquieto e impaciente me impede de deter-me muito, divagando rapidamente para outras coisas e eu creio que aqui entra o espírito do mal, pois esse pensamento de gratidão seria capaz de levar-me a fazer grandes coisas para o Senhor.”(Carta ao bispo do 29 de Março de 1857).

O crescimento espiritual de Paula Elisabetta estava já transformando e vivificando aquela frieza e aquela indiferença que sentia fortes no tempo da trágica morte do filho, como nos testemunha ela própria com estas palavras escritas ao Reitor do Colégio São Alexandre de Bergamo:

“Peço Monsenhor que me abençõe, porque eu também sou sua ovelha desgarrada mas cheia de bons desejos recuperar-se de uma vida fria e indiferente ao serviço de Deus, agora que o Senhor castigou-me com a maior das desgraças (morte do filho Carlos)” (Cerioli, Carta a Valsecchi do 28 de Fevereiro de 1854).

No entanto se, por um lado a fé evangélica cristã ia adquirindo uma nova centralidade feita de maior consciência da suas exigências e de corajosa entrega nas mãos do Pai celeste, no mesmo tempo o discernimento mostra a exigência de definir a qualidade desta fé em relação ao estado de vida a assumir e também à coerente maneira de exprimi-lo apostolicamente. As três coisas – nova fé , estado de vida na Igreja, apostolado especifico – são claramente faces diferentes da única misteriosa vitalidade espiritual daquele que começa concretamente uma seqüela. Elas são interligadas, embora emergiam em momentos diferentes conforme uma misteriosa ação do espírito que conduz cada batizado a crescer na fé edificando a Igreja, produzindo fruto em cada obra boa e crescendo na caridade.

Quando, obedecendo às admonições do Bispo, a Cerioli de alguma forma conseguiu superar o luto da perda do filho e transformar a solidão infeliz numa ocasião de nova vida, livre do delírio das cobranças e do vitimismo e das fugas da realidade, enfrenta com decisão a questão do seu novo estado de vida a assumir e do tipo de apostolado a exprimir. O que o Espírito anima no coração e na mente da Cerioli não são intuições e disposições espirituais novas ou improvisas mas atitudes familiares que têm a ver com a situação atual de sua vida mas também com a estrutura e a história de sua personalidade e família.

De fato já desde a tradição de família, onde a mãe era chamada com o nome de mãe dos pobres que a Cerioli não sabe imaginar outra missão e outro apostolado que os das “obras de misericórdia”. Misericórdia que compreende também o atendimento e a assistência aos doentes sozinhos, abandonados por todos, considerados revoltantes (hoje em dia pensemos nos doentes terminais de HIV), como nos testemunha a tradição:

A casa era freqüentemente visitada pelos pobres, acima de tudo por mães pobres, viúvas e doentes. Distribuía-lhes roupas ou dinheiro, segundo a necessidade de cada uma. Uma pobre mulher que tinha um câncer no peito, vinha toda semana para medicá-lo. Constança mesma tratava dela com tanta delicadeza e empenho, que a mulher quase não sentia dor. Medicava também uma lavadeira da casa que tinha uma ferida na perna. Aquela que narra estes fatos, estando presente nessas ocasiões, envergonhava-se de ver uma senhora de tanto respeito ocupar-se de uma coisa tão repugnante e por isso insistia em substituí-la, muito embora tivesse nojo. Ela porém, com muito jeito, recusava dizendo com naturalidade: “Ora! Eu estou habituada a este tipo de serviço” e, com santa habilidade continuava sozinha para vencer-se a si própria naquelas heróicas batalhas. Este era o objetivo principal de cada ação sua. Curava também as chagas das pernas de um velho servidor da casa, indo ao seu quarto para medicá-lo e, com particular delicadeza, tirava-lhe os vermes que haviam se criado. Devia, porém, travar uma intensa luta com sua natureza e estômago tão delicados e sensíveis à vista das mais pequenas coisas que pudessem causar náuseas. Tanto isto era verdade que durante tais operações o seu estômago, com freqüência se revoltava e era forçada a sair por um instante para voltar ao normal e poder assim concluir a sua caridade, a qual completava com incrível coragem. (Longoni, p. 47).

Já desde o fim de 1854 ela decidiu, embora de forma ainda vaga e confusa, de não se render a uma esterilidade imposta pelos acontecimentos e pela natureza. Já desde o setembro de 1855, como conseqüência da experiência do Gromo em Bérgamo alta, com a ajuda de autoridade do Bispo, decidiu de não entrar num instituto religioso como irmã. Naturalmente ter disposições e viver afinidades ao ditado espiritual evangélico e eclesial não significa ter o caminho aplainado para a atuação fácil de uma vocação como fundadora; nem significa receber do Espírito especiais revelações quanto à maneira de acolher sua graça (carisma).

O Espírito Santo age sempre respeitando uma arcana gradualidade que não poupa fadiga, dúvidas, dificuldades, dores, desnorteamento naqueles que decidem de responder seriamente a na liberdade às suas solicitações. È assim também para a nossa Fundadora que escreve sobre isso:

Tenho também outra tentação que me deixa inquieta e, algumas vezes, agitada. O demônio, porque não pode ser senão ele, coloca-me isto na cabeça: se Deus a abandonasse e lhe retirasse a sua graça, que faria na estrada difícil para a qual você foi encaminhada ? O maligno, que não pode me tentar nem com a separação da família, dos bens e do mundo, porque o Senhor, conhecendo a minha fraqueza, havia providenciado isso, ao tirar-me o único objeto que poderia fazer com que me apegasse as estas coisas, persegue-me com este pensamento, para me impedir de caminhar por esta estrada tão rapidamente como talvez devesse ter percorrido. Experimentei mais fortemente essa tentação desde quando acolhi a minha primeira filha e durou até a sexta ou sétima. Esse pensamento: você pode se arrepender, colocava-me em uma incerteza e inquietação muito grandes, todas as vezes que devia aceitar mais uma. Não saberia explicá-lo, pois sem que pudesse pensar, nem analisar, sentia-me levada a prosseguir, por estar certa de fazer a vontade de Deus. Esse sentimento continuou durante certo tempo, até que a tentação foi embora. Passei então a sentir muita alegria e consolação todas as vezes que crescia essa pobre família. Voltei a senti-la, muito forte, quando ia fazer os Votos. Desejava-os muito, embora com repugnância, e havia prometido ao Senhor, mas parecia-me impossível chegar a uma decisão, ainda por causa daquele pensamento: você pode se arrepender, parecendo ser um passo ainda mais imprudente do que o primeiro, como me sugeria o demônio. Mas aquele mesmo estímulo e persuasão que sentia para acolher as meninas, sentia-o também pelos votos, e foi o que mais me induziu, uma manhã, a vir procurá-lo. A natureza ou o demônio faziam-me pensar que V. Excia os teria recusaria ou deferiria. Talvez até mesmo tenha sido isto que me animou a procurá-lo. Embora não parecesse, sofria muito naquele momento, por causa dessa incerteza e dessa luta. Fiquei surpresa e agitada quando o senhor me disse que sim. Mas, no fundo do meu coração, sentia, na verdade, uma secreta consolação com a satisfação de ter ao menos um sacrifício para oferecer ao Senhor. De manhã, na hora da santa Comunhão, fiz os votos, a despeito de mil pensamentos negativos, que procuravam dissuadir-me. Por algum tempo essa tentação me manteve agitada, impedindo-me de saborear toda a alegria. Com o tempo, passou. Pensei estar libertada de vez, mas agora o demônio recomeça tudo, ao me colocar na mente: será mesmo esta a vontade de Deus? Fazendo-me entrever o que talvez aconteça no futuro, a diversidade das companheiras com as quais terei que viver, eu mesma, tão cheia de orgulho, minha repugnância por tantos pequenos sacrifícios, minhaa inveja e assim por diante. Oh! Meu Deus, a mim não me importa sofrer, antes parece-me que o espírito só tem a ganhar com o sofrimento, mas será a vontade de Deus? Será puro, será louvável? Tivesse eu, ao menos, devoção e amor, mas ando tão fria e distraída, especialmente na meditação, muito embora sinta vivamente o desejo, mas faço pouca força para vencer essa indiferença. Veja, Excelência, como estou. Sugira-me qualquer coisa para tornar-me humilde, unida e recolhida em Deus, porque então todas as tentações a que o demônio poderá expor-me, ser-me-ão caras, porque servirão para purificar-me mais e fazer penitência pelos meus pecados. (Constança Cerioli, 11/05/1857).

As tentações como a própria estrada da Páscoa interior e caminho do amor que espera, serão progressivamente superadas. Abrirão para um dom maior do Espírito ao ponto dela se tornar mais hábil em discernir, avaliar, provar cada coisa. Professará os votos, conduzindo no mesmo caminho as suas primeiras companheiras; dobrar-se-á maternalmente sobre as crianças abandonadas e sem futuro, começando a realizar o tempo da profecia do seu pequeno Carlos em ponto de morte: “mãe, não chores pela minha morte; o Senhor dar-te-á muitos outros filhos”. Desta forma chegamos à consciência religiosa revelada por Jesus, que a autêntica comunidade humana que reza dizendo “Pai nosso” è formada pelos “pequeníssimos” (Mt 11,25) aos quais o Pai revela seus segredos e cada um dos quais è pessoalmente filho de Deus.

Para cada um deles Ele provê os bens necessários (Mt 6,26), sobre tudo o Espírito Santo (Lc 11,13), e manifesta a imensidade de sua ternura misericordiosa (Lc 15,11-32), de tal forma que não resta se não reconhecer humildemente esta única paternidade (Mt 23,9) e viver como filhos que rezam ao seu Pai (Mt 7,7-11), põem nele sua confiança (Mt 6,25-34), se submetem a Ele imitando seu amor universal (Mt 18,33), sua misericórdia (Lc 6,36), sua mesma perfeição (Mt 5,48). De fato quando a Fundadora deverá definir de forma sintética a condição de possibilidade da vida fraterna em comum e do apostolado dos seus religiosos não poderá se não lembrar a exigência de se apropriar do agape de Cristo como original revelação do agape trinitário que resplandece no mistério da família de Jesus, Maria e José.

Com a consciência da grande ignorância também entre as pessoas de fé “da verdadeira e real caridade que Jesus nos ensinou com o exemplo e co as obras” exorta a desenvolver uma eficaz catequese sobre sua natureza e necessidade para a vida comunitária e para o apostolado afirmando com insistência e intensidade que o agape, caraterística só de Deus, è a única condição que pode ser laço dos corações das pessoas que formam uma comunidade dedicada às “obras de misericórdia”.


2. A Contemplação das Mãe das Dores: Deserto e nova Maternidade.

O carisma da Cerioli nasce da própria essência do Evangelho, da doutrina e da obra de Jesus Cristo que revela a original natureza de Deus como Pai, próximo samaritano e vida plena para todas as criaturas humanas libertas do maligno e constituídas filhos no Filho:

“era dito homem de vida generosa, amigo dos pecadores, samaritano…” (Escritos espirituais).

Sem o exemplo de Cristo e sem sua pregação não teria existido o carisma da Cerioli para a edificação da Igreja. Embora ditato e condicionado por motivos cristológicos, antropológicos e culturais de seu tempo, todavia ele provem de um impulso do Espírito “que sempre age na Igreja” (ET 11).

Paradoxalmente em todos os escritos da Fundadora fala-se muitas vezes do Pai, chamado também Deus e Senhor, muitas vezes de Jesus Cristo, que ela convida abertamente e apaixonadamente “a estudar com diligência” (Escritos espirituais), mas è muitos raro e quase inexistente a citação explícita do Espírito Santo. Apesar disso não há nenhuma dúvida de que a Fundadora aja e pense movida por Ele. Concretamente nunca atribui a si mesma a honra ou a inciativa na edificação de sua Obra, mas reconhece fora de si, na intenção e na potência de Deus – o Espírito Santo – seja pela mediação do seu diretor espiritual Alessandro Valsecchi, seja mais insistentemente pela mediação de São José, a honra e a intenção de tal projeto.

A causa histórica mais decisiva, portanto, para o nascimento do carisma Sagrada Família com o cargo de sua benfazeja espiritualidade, foi sem dúvida a pessoa, a doutrina e a obra de Cristo que revelou a proximidade do Pai; foi também a atividade constante do Espírito Santo na pessoa da Fundadora feita por Ele sinal de um dom extraordinário capaz de fazer assimilar a revelação de Cristo que Deus Pai desposou para sempre a humanidade para a festa da vida renunciando definitivamente à ira e às ameaças, pois “não há mais nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8), mas só misericórdia, providência e filiação amorosa.

Todavia, sem negar estas realidades evidentes, è necessário admitir que na origem do Carisma da Cerioli a pessoa e o exemplo de Maria contribuíram de maneira considerável para o seu nascimento e desenvolvimento.

A exemplaridade de Maria para a Cerioli diz respeito fundamentalmente ao mistério de sua maternidade. Ela é a mãe de Jesus, o Filho que seria tirado dela! e isso de livre vontade. Aceita de dar à luz o Filho de Deus para o povo de Deus, representando todo esse povo na aceitação da salvação que Deus lhe propôs. Mas o mistério da maternidade de Maria implica uma união total ao mistério de Jesus que na sua vida terrena não exclui a prova e a cruz (Lc, 2,35., Jo 19,25): isso diz que esse mistério não podia ser só objeto de uma contemplação exterior, capaz só de provocar consolação, desejo de imitação ou sublimação do seu potente instinto de maternidade.

A exemplaridade da Mãe das dores, que a Cerioli contemplava e implorava no ícone da pequena igreja da Visitação em Comonte já nos momentos mais difíceis de sua vida (1854) quando o filho estava morrendo,

“confessou que uma vez, considerando as dores de Maria SS.ma e imaginando o momento em que ele viu a morte de Divino seu Filho, sentiu um tal pressentimento e um tal aperto de coração que angustiada se abandonou e sentou-se quase desmaiada. Não sei – dizia depois – como eu possa ter sobrevivido, de tão fraca e cansada que estava. (Longoni),

se ternou indispensável nesta hora de solidão e de desnorteamento quando:

“para ela tudo era tristeza, tudo lembrava a perda do seus queridos: e única consolação que encontrava era deter-se na solidão da sua pequena igreja, abrindo o seu coração ferido para Deus e para aquela que foi Mãe das dores”. (Longoni).

Assim aos poucos sentia-se levada a experimentar em si mesma aquelas atitudes e disposições que foram próprias de Maria e que misteriosamente também para ela o filhinho na hora da morte convidava a assimilar.

Na contemplação da Mãe das dores a Cerioli sentia a transformação do seu próprio mundo interior, quase percebendo o efeito intrínseco de seu influxo santificador no coração, onde se cumpria uma impressão especial da realidade que Maria possuia ricamente de forma pessoal. Esta realidade era o conjunto da experiência espiritual de Maria, que como mãe de Jesus foi chamada a um despimento tão radical da maternidade que desapareceu atrás e dentro da figura da “fiel” que segue o mestre e Senhor (Lc. 2,49; Jo 2,4). Despimento que se cumpre no próprio coração do mistério da cruz. No calvário a maternidade de Maria se transforma (Jo 19, 25) quando Jesus, com total autoridade de Senhor real, se dirige a ela pela segunda vez com o solene “mulher” indicando o novo filho, e a chama para uma nova maternidade que será sua nova função no povo de Deus. Maria no deserto aridíssimo, solitário e trágico do despimento do Calvário reconhece a superioridade da fé sobre a maternidade carnal.

Também a fundadora, embora já tendo parado frequentemente em terras desertas muito difíceis ao longo de sua vida que permitiram o nascimento e o desenvolvimento de sua fé, no ponto alto dos acontecimentos é levada pelo Espirito no deserto definitivo da prova mais decisiva (noviciado) onde, pela graça mediadora de Maria, sua solidão e sua saudade se tornam memória que o homem não vive só de pão, mas da palavra de Deus.

Que esta tenha sido uma prova com no centro o tema da solidão e da renúncia que caraterizaram a experiência do povo de Israel e depois a do Calvário de Maria, nos è transmitido com autoridade e de forma explícita.

Desde a morte do filho havia feito o dom total de si mesma a Deus. Alimentava em seu coração o propósito de dedicar-se inteiramente a Ele. Este propósito foi renovado mais fortemente depois da perda do marido. Vinham-lhe freqüentemente à memória as palavras de seu filho Carlos, ao morrer: “O Senhor lhe dará outros filhos em quem pensar”. Pensava e refletia nisso e projetava um estabelecimento de órfãos pobres, mas era sempre uma idéia confusa. Continuava a rezar ao Senhor para que a fizesse perceber com clareza sua santíssima Vontade. Estaria pronta a executá-la, fosse qual fosse, entregando-se totalmente nos seus braços.

Dizia, algum tempo depois, à confidente:

“Na minha solidão não pensava em outra coisa que não fosse pedir a Deus luz e conforto porque, como poderia eu manter-me, imersa como estava numa total desolação, se não tivesse tido a ajuda de Jesus e Maria? Atravessava um período de tanta obscuridade espiritual, que não podia saber com exatidão o que Deus queria dela. (Longoni, 45).

Naturalmente a pessoa e a história de Cristo, com o sentido e a singularidade do seu valor, não podem nem devem coincidir com a de Maria, chamada por Deus para uma tarefa e um papel únicos e exclusivos mas relativos e diferentes dos de Cristo. Da mesma forma a experiência do deserto e do calvário da Cerioli na experiência da renúncia à sua maternidade carnal não pode nem deve ser assimilada à de Maria totalmente diferente da dela, pelo conteúdo e o valor. O que une as duas histórias - de Maria e da Cerioli - é a revelação que apela para uma maternidade espiritual: universal (de toda a Igreja) para Maria; de “muitos outros filhos” abandonados, pobres, impedidos de habitar o mundo e sem futuro para a Cerioli e os seus discípulos futuros. Todo religioso da Sagrada Família que pretende seguir Jesus assumindo o Carisma Cerioliano não poderá nunca imaginar de se tornar discípulo sem ter enfrentado, na contemplação da Mãe das dores que se faz memória do sentido da assunção em nós da Palavra de Deus, a tarefa da renuncia livre e consciente à sua paternidade carnal em favor de uma oferenda de si alegre e generosa para ser mediador da paternidade de Deus.


3. A experiência do “ Gromo”: tornar-se pobre para socorrer as filhas de São José

Na espiritualidade muito ordinária da Cerioli que, como dissemos, pode-se considerar uma original interpretação da espiritualidade do tempo dela, tem um lugar importante a experiência do “Gromo”. Estas importância deve ser experimentada também na experiência de noviciado daqueles e aquelas que querem acolher e viver o seu carisma.

Constança Cerioli com quase quarenta anos de vida percebe que Deus a chama para uma nova identidade e enquanto está totalmente dedicada a viver as orientações espirituais dos seus diretores, na primavera de 1855 acontece a ela aquilo que na tradição de congregação foi considerado

“um momento de Deus que ela soube acolher realizando a previsão de seu Carlos começando a se tornar mãe de outros filhos” (Longoni…).

Aconteceu que um humilde e simples sacerdote espanhol, padre José Agnesis, naquela ocasião hóspede na casa dela para substituir provisoriamente o vigário ordinário de Comonte, padre Bartolomeu Tommasi, a convidou a se sentir plenamente livre em socorrer as pequenas moças abandonadas e pobres dos arredores do palácio dela, pois isso teria aliviado o seu espírito provado pela morte do filho.

Apresentou-se quase imediatamente a oportunidade de apresentar uma tal obra de misericórdia: quando se apresentaram duas pobres moças órfãs para pedir esmola ao seu palácio, ela as segurou na sua casa, superando o desnorteamento e a hostilidade dos parentes e dos criados que

“ sentiam nojo delas e de sua miséria, ela cuidou delas com amor materno sentindo o seu coração abrir-se e passar de repente o pesadelo da sua dor” (Longoni…).

O testemunho direto de quem escutou a viva voz da fundadora nos deixou escrito:

“a sua mente com alegria foi descansar num misterioso sentido da preciosa previsão de seu filho e ela viu abrir-se em parte o denso véu que cobria o seu futuro e sentiu-se toda acessa de maior coragem para seguir mais fielmente e às cegas aos caminhos de Deus, embora ainda não compreende-se claramente até o fundo suas santíssima vontade” (Longoni…).

O que cada vez mais claramente emerge no enredo dos acontecimentos, além do ineliminável desejo de maternidade è a perspectiva de gerar de novo esta nova vida do abismo da exclusão, da impotência da desolação e dos olhares calados dos pequenos que não têm esperança de futuro. Estas criaturas, antes de ser substitutos que compensam a perca do filho morto, tornam-se cedo um dom de Deus que se liga a revelação da maternidade espiritual que deverá se exprimir para eles que a invocam sem ser escutados pela maioria. Elas são aquelas que uns meses mais tardes serão chamadas as Filhas de São José.

È verdade que na Fundadora teve uma certa incerteza inicial em dar um nome a estas pobres vidas de pequenas excluídas, pois era natural para ela chamá-las de órfãs e de Filhas da Providência. Mas sentido religiosamente que o Filho da Providência gerado por Maria e que resplandecia nos rostos daquelas meninas tinha sido confiando ao cuidado amoroso do grande São José para definir o sentido mais profundo da sua ação educativa e daquela dos seus futuros discípulos escolheu logo o nome de Filhas de São José. Dobrar-se sobre as abandonadas necessitadas considerando-as Filhas de São José significa testemunhar que graças a Jesus nenhuma criatura era mais órfã, pois o Pai era providência através dos novos Josés e Marias que surgiriam para cuidar e proteger aquelas vidas.

Disso è testemunho o desenvolvimento histórico dos fatos que seguiram os primeiros cuidados para com as moças pobres e também um escrito dela para o seu sobrinho Francisco, onde aparece com bastante evidência que a decisão dela de chamara as órfãs com o nome de Filhas de São José era de fato um sinal e uma explicação da nova visão de fé que animava a Fundadora.

“ Agradeço-lhe também muito de se interessar com as minhas pobres filhas; sim, caro sobrinho, elas ocupam já todos os meus cuidados e atenções e se pudesse desejar algo neste mundo seria o estabelecimento desta Família de órfãs que eu queria chamar de Filhas de São José, que o Senhor faça o que Ele quer, Ele sabe melhor o que convém para a sua glória. Que sua vontade seja sempre bendita: só reze que eu não coloque obstáculos aos desígnios com minhas negligências e gratidão” (Cerioli, carta do 07 de janeiro de 1857).

No Gromo, na parta alta de Bérgamo, onde as Irmãs do Sagrado Coração tinham um dos seus centro de vida mais significativos, quanto a Cerioli, por conselho do Bispo que a viria bem como irmã daquele instituto, se retira para conhecer , através de um especial discernimentos e de uma intensa oração, a vontade de Deus (P. Merati, pg. 75; Apontado Longoni, pg. 61) acontece que o apelo destas órfãs Filhas da Providência mais implícita e realmente Filhas de São José è tão poderoso ao ponto de orientar de maneira germinal mas definitiva sua vida e seu futuro no sulco da condivisão misericordiosa e de caridosa da vida delas tão incerta e insegura. São elas mesmas, pelo valor que têm aos olhos de Deus em razão da negligência e do abandono, da pobreza e da miséria, da separação e da discriminação provocas pelos homens, são elas que tornam forte e decidida a Fundadora em recusar o Instituto das Filhas do Sagrado Coração porque aos seus olhos esta escolha constituiria um ruptura insuportável com a experiência da nova maternidade espiritual contemplada… e com a exigência que esta maternidade gerasse de novo a vida dos mais humildes, dos pequenos e dos mais marginalizados da sua época.

Sendo que desde sempre já tinha sentido a atração para a pobreza de espírito que tinha levado Jesus a acolher os pobres e excluídos do seu tempo, nunca poderia decidir de entrar em um instituto cujo principal meio de testemunho não estava voltado para a eliminação das barreiras culturais e sociais entre ricos e pobres, sim em outro lugar. Para ela não se fazer pobre para partilhar a vida dos pobres caminhando ao seu lado para recuperar a ajuda-los a recuperar a dignidade de filhos de Deus igual para todas as criaturas era como “estar demais bem; não se sentir nada a vontade” em relação as exigências da própria fé que em Jesus vê destruído cada muro de separação (Ef 2,14).

Na escolha dos pobres com a partilha material da vida deles o sentido mias profundo e vital do seu discernimento casa definitivamente com a nova maternidade que deve gerar de novo a vida dos oprimidos e abandonados, depois de ter escolhido a partilha da mesma condição de vida:

“ Não me sinto levada a me tornar uma Irmão do Instituto do Sagrado Coração sinto-me, isto sim, inclinada a ter um vida mais pobre e a conviver com pessoas de mais baixa condição” (Longoni, pg. 61).

È assim que se cumpre a experiência espiritual do Gromo, tornando-se uma escolha cheia de benção e ao mesmo tempo normativa para a inteira existência da instituição e de seus membros. Mesmo que hoje precise de uma inadiável recuperação na interioridade das consciências para exprimir de maneira atual o carisma, de maneira mais ou menos evidente, esta escolhe ficará presente no centro do toda a história da instituição e da vocação de seus religiosos, porque contém as raízes, as promessas e as exigências desta vocação.

A tradição nos conserva uma característica memória da experiência do Gromo da Cerioli, sintetizado num diálogo muito interessante D. Speranza. Aqui pode-se reconhecer facilmente as razões de nossas observações, o corajosos bom senso espiritual da Fundadora e a excepcional do rude bispo bergamasco:

Poucos dias depois, Dom Speranza foi visitá-la e lhe perguntou como se encontrava, ela respondeu: “Bem, Excelência, até bem demais.” - “Então, pretende ficar aqui”? – “Como quiser vossa Excelência” – “Não, acrescentou-lhe, quero saber como você se sente internamente” - “Internamente não me sinto de forma nenhuma inclinada a isso, ou melhor, se antes tinha qualquer inclinação para ficar aqui, agora desapareceu totalmente. Sinto-me, isto sim, inclinada a ter uma vida mais pobre e a conviver com pessoas da mais baixa condição.” Então o santo Bispo respondeu: “Volte o mais breve possível para casa , em paz e espere, fazendo sempre o bem e rezando para que Deus manifeste a sua santíssima vontade e nós a executaremos, está bem?” – “Muitíssimo bem, Excelência “. E partiu.

Uma vez em casa, sentiu em si maior vontade de levar avante o bem começado e sentiu um estímulo maior para rezar mais intensamente, a fim de que Deus se dignasse a consolá-la com a revelação do caminho para onde a guiavam os desígnios que Ele estava preparando para seu futuro. Esta alma bendita não perdia tempo com mesquinharias e aproveitava toda e qualquer ocasião para alegrar o próximo, especialmente os pobres. (Longoni, 61).


4. O mistério da Santa Família como compêndio da espiritualidade da vocação cerioliana

O propósito da Fundadora de mediar a paternidade-maternidade benéfica de Deus para os filhos abandonados dos pobres camponeses da sua época tem uma referência fundamental à Santa Família de Jesus, Maria e José. Tal ligação não depende de uma reflexão teológica sobre a Família de Nazaré por parte da Cerioli, mas da sua experiência prática pessoal e da experiência de muita parte da igreja do seu tempo e lugar. De fato, como já observamos, o que acompanha e guia o discernimento espiritual e vocacional da Fundadora è o próprio desejo de maternidade que, na fé e na contemplação da Mãe das Dores aos pés da cruz, deve tornar-se nova carismática, isto è conforme as intenções do espírito. Mas esta maternidade, antes quase deduzida da de Maria, depois è ligada de maneira irresistível com a paternidade de José por causa da presença dos “penhores” – as Filhas de São José – que o Pai ia confiando-lhe como tesouros a cuidar e amar.

Com esta referência, que implica um desenvolvimento por etapas e que se realiza ao longo do tempo, a Cerioli, como conseqüência do seu caminho de fé quer fazer compreender que as famílias mais verdadeiras são aquelas nas quais os laços mais autênticos devem ser procurados na fé mais que no parentesco (Mc 3,31-35). De resto, como se sabe, todo o tema da esterilidade e da virgindade tratado na Bíblia desde o Antigo Testamento até Jesus Cristo, è um convite a reconhecer como filhos mais autênticos não aqueles que são gerados pela carne mas aqueles que são dados também fora da própria geração: os que Deus dá a você e escolhido para você. Não são somente os que aqueles gerados sexualmente, mas aqueles que são gerados de novo com o amor.

Naturalmente a contemplação da Família de Nazaré sugere a aceitação de um modelo de geração, de paternidade, de maternidade e também de filiação totalmente atípicos, característicos só da fé. Estes modelos, neste sentido, permitem àquele que não pretende limitar-se nas modalidades de geração carnal e sexual, de se abrir para novos horizontes e paixões para a humanidade, através de uma extraordinárias energia de nova geração. Neste sentido o modelo da Santa Família se torna uma referência que abre para a esperança não só aquele que è viuvo estéril ou incapaz de criatividade, mas sobretudo aquele que recebe a vocação – missão fascinadora e empenhativa de criar condições sempre mais eficazes para a afirmação da paternidade-maternidade de Deus para si e para o futuro de quem não tem futuro.

Este projeto vocacional, característicos de todos os cristão em geral, nas intenções e conforme o testemunho da Cerioli è específico para os seus seguidores e exige a aceitação alegre e rigorosa de viver a pobreza total da Santa Família, que não è principalmente a pobreza de recursos dos quais, de alguma forma, Jesus, José e Maria podiam também dispor, mas sobretudo è a renúncia a gerir os afetos, que não se pode suprimir, de maneira pessoal para deixar que seja Deus a oferecer-lhe os que Ele quer.

A Família de Nazaré è pobre exatamente porque aceita de ser família da maneira que Deus o revela e o pode. È pobre porque aceita de viver o tipo de familiaridade que è pedida por esta família particular. Para a Cerioli as sementes desta pobreza brotam logo na hora da revelação que o filho moribundo abria-lhe de maneira misteriosa quando lhe dizia:

“ mãe não chores Deus lhe a dar outros filhos” (Longoni, 33).

Estas sementes precisarão de tempos e condições favoráveis para se desenvolver, mas o seu valor e o seu significado são determinantes para que ela prossiga a missão e a vocação que o filho lhe havia com ternura indicado. Em seguida ela de maneira cada vez mais forte adverte que a partir deste modelo se abre uma vida grande, capaz de constituí-la de novo mãe de muitos pequenos, pobres e abandonados que a sociedade camponesa de seu tempo abandonava a si mesmos.

No começo desta vocação não há porém os pobres a ser socorridos, mas a recuperação radical da entrega confiante e filial de si mesma ao Pai que habilita a se sentir bem vivos e a dar vida plena. Apesar do empenho de fé exprimido na sua vida cotidiana antes da morte do filho e do marido, como já realçamos, aos quarenta anos para ela foi necessário recuperar uma nova centralidade da fé que lhe pediria de confiar num Evangelho mais do que nas suas necessidades e nos seus projetos.

Os exemplos de Maria e de José desde então se tornam modelos espirituais estimulantes e expressivos de tal exigência.

A referência prática e humilde à Santa Família hoje em dia a Cerioli a oferece para nós, afim de que possamos enfrentar perguntas grandiosas: o que revela de si Deus no mistérios conjugal da família de Jesus, Maria e José? Qual rosto da divindade esta família oferece? Qual identidade nela se exprime para a vocação do religioso da Sagrada Família?

A imagem que transparece no fato que o Filho eterno acolhido pela Mãe Maria, feito objeto de atenções, crescido e habilitado para a tarefa lhe confiada pelo Pai, é aquela de um Deus que por puro amor “decidiu de não poupar para si o próprio filho mas de entrega-lo por todos” (Rm 8,32). O mistério da Santa família transmite de modo denso e incisivo a verdade que a paternidade divina reproduzida humanamente em José tem também a natureza da maternidade expressa por Maria; e é isto que se pode também chamar re-creação gerativa com o amor, com a atenção, com a generosidade e com o Dom de si.

O fato que haja uma família humana para o filho eterno do Pai, diz sumariamente que o Deus cristão não é solidão ou afastamento, mas relação e solidariedade; não é abstrata estranheza do mundo mas relação com a criação em razão do relacionamento de amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amor trinitário de atenção e de solidariedade que não aceita, portanto, nenhuma solidão e nenhum abandono já que todas as criaturas devem encontrar acolhimento vital em uma família capaz de habilita-las a uma vida serena de família humana e de fé.

No mistério da Santa Família também é visibilizada uma imagem evangélica particular de religioso. No radical ser preparados pelo Pai, no Espírito à acolhida do Filho, Palavra eterna, Maria e José mostram que o religioso é constituído como tal pela Palavra a assimilar, venerar e conservar no coração e na qual habitar. Em Jesus, Maria e José fé significa verdadeiramente entrega radical de si a Deus e mesmo neste ser de Deus pela Palavra o religioso que contempla Maria e José na dinâmica de fé vê concretizado um modo singular de ser hoje e sempre “ouvintes da Palavra”. De fato, Maria e José não mostram somente a ícone do Filho totalmente dedicado ao Pai e à sua glória, mas também nele, o ícone original de todas as criaturas que se tornarão filhos no Filho; de cada vida humana que companheira e colaboradora de Deus Padre, pronunciará com humildade e com fidelidade o sim da acolhida virginal de tal Palavra e o sim da renúncia à afirmação de si. Assim no mistério da Santa Família é definida e codificada para sempre a identidade mais profunda do religioso da Sagrada Família. Ele está firmemente unido a Jesus, Maria e José para servir a Trindade doando-lhe todo em sacrifício e dedicando todo esforço para anunciar que é autêntica benção para os homens buscar a vida divina a todos e de modo particular aos pequenos sem futuro. Este sacrifício de se dedicar totalmente pela glória de Deus resplandecente de modo insuperável “no homem vivente” era uma oração que a Cerioli fazia recitar no ato da profissão religiosa.

“ Eu N. para unir-me sempre mais estreitamente a Sagrada Família do Filho de Deus feito Homem Jesus Cristo, Senhor nosso, e para colocar-me totalmente no empenho de servir Sua Divina Majestade e imitar as virtudes que resplandeceram nas Augustas Personagens da Santa Família, e a mim são mais necessárias, aqui prostrada na presença da Santíssima Trindade e na presença de Jesus, de Maria Santíssima, de São José e do meu Anjo da Guarda, para a pura glória de Deus, faço Voto de Pobreza, Castidade e Obediência por um ano conforme as regras e práticas desse Instituto, reconhecido pelo Bispo. Jesus, Maria e José a vós entrego este meu sacrifício; abençoa-o, e apresenta-o ao Trono de Deus, impetrando-me a graça de cumpri-lo perfeitamente. Amém, assim quero, assim espero, assim seja” (Escritos de Fundação, 207).

Naturalmente, a referência da fundadora ao mistério da Santa Família diz respeito seja ao conjunto de seu alcance seja a cada um dos personagens que a compõe. Aos seus olhos está bem claro que os seus respectivos papeis e a qualidade das suas exemplificações não podem se sobrepor nem confundir. Cada um deles está envolvido na dinâmica do mistério segundo um agir próprio de cada um: Jesus menino é o Filho de Deus feito homem por amor, Maria como Mãe de Jesus é a co-redentora única e insuperável, José é o Pai putativo do filho da sua esposa. Em reconhecimento das grandezas dos personagens não se tem nenhuma dúvida que a hierarquia, além disso imprópria e improponível vá, em ordem crescente, de José a Maria a Jesus. Todavia não deve surpreender o fato que na consistência dos seus conselhos, a Fundadora exprima uma referência espiritual, imediata, mais sistemática e cordial à figura de São José ao qual atribui muitas vezes a idéia e a vontade da fundação do novo instituto assim como a sua constante guia invisível mas real e também o socorro infalível e eficaz a todas as necessidades práticas e de subsistência. Não deve surpreender, dizíamos, porque o pai putativo como insuperado mediador da paternidade divina é imediatamente o pai das crianças por ela socorridas; é o modelo autorizado sobre a terra do valor incontestável e indiscutível da autoridade celeste do Pai que, segundo a concessão do tempo, valoriza a autoridade de cada pai terreno e de todo aquele participa desta.

Ainda, São José recebe especial predileção da nossa Fundadora porque tinha aprendido a amá-lo na sua juventude quando soube da grande consideração com que era tido por Santa Teresa de Ávila sua musa inspiradora espiritual; além disso, esta devoção em favor do último grande patriarca de Israel era o cume da expressão popular justamente na metade de mil e oitocentos quando contrapondo-se a exigência da proclamação de uma religiosidade erudita e uma religiosidade popular, uma vasta corrente espiritual refutava tal inclinação emergente propondo com força a idéia de uma religiosidade feita de humildade, simplicidade, bom exemplo com relação aquela feita de palavras.

“ Simplicidade e naturalidade: eis o vosso espírito e deste nunca separai-vos. Pregai com bom exemplo que fareis melhor e mais durável fruto. As palavras passam depressa, mas a impressão da vossa conduta dificilmente se cancelará da memória. Procurais portanto deixá-la boa. fazei-vos ver modestas, recolhidas atentas e no mesmo tempo alegres, limpas e agradáveis. Que o vosso próprio silêncio demonstre a alegria e o contentamento da vossa alma. Fazeis enfim conhecer quanto é comprovadamente verdadeiro aquilo que diz Jesus Cristo, que o seu peso e leve e seu jugo e suave (Mt 11,30)” (Escritos de Fundação…).

Religiosidade facilmente identificável mesmo no menino Jesus, Maria e, sobretudo, em José do qual não se conhece palavra proferida. No fundo, o relevar por parte da Fundadora a função de estímulo espiritual primária de José, também se diretamente dependente da concepção antropológica de autoridade de seu tempo, não ofusca de modo nenhum a originalidade singular de Jesus e de Maria, mas entende reenviar à paternidade fontal do Pai e indicar a modalidade expressiva de fundo do próprio testemunho dos seus religiosos: responder a própria vocação com o Dom completo de si expresso por atitudes reais mais que por palavras fáceis e enganadoras.

Estamos em Nazaré, entremos devagarinho nesta humilde habitação para não perturbar os seus moradores. Quem são eles? Os mais augustos personagens do Céu. Vamos entrando... Que silêncio, que paz se respira aqui... onde estão? Ei-los. Maria sentada aqui. Ela trabalha, trabalha para a sua Santa Família. Irmãs, admirem e fiquem maravilhadas. A mãe de um Deus... estão vendo, Ela prepara e serve a comida, lava a louça, varre a matem limpa a casa. Quanta majestade em tanta humildade, quanta limpeza em tanta pobreza, quanta ordem em tanta miséria, e por quê? Porque Maria está recolhida, não fala, porque trabalha com tranqüilidade, com amor e para o seu Deus. Afazeres humildes, quanto vocês são grandes, quanto são invejáveis, santificados e, muito antes de nós, executados pela grande Rainha do Céu. Desejo ardente de se mostrar, de ocupar altos cargos, de independência, quanto se tornam desprezíveis se forem comparados aos afazeres de Maria. E poderemos nós, então, desejar estas coisas? Vejam José, como olha para sua casta Esposa, a pura e doce Maria. O suor banha sua augusta fronte, a fadiga o alquebra, mesmo assim Ele trabalha, trabalha continuamente, é feliz e agradece, de coração, ao seu Senhor, de poder, com os seus esforços e com a sua fadiga, sustentar e alimentar aqueles queridos penhores a Ele confiados, delícia dos Anjos, sua alegria, seu amor, sua consolação. Feliz de você, José! Como soube corresponder bem a tão alta missão! E nós, como estamos respondendo ao nosso chamado? A seus pés Jesus está, o bom Jesus, feito pequeno por amor de nós. Ele brinca e se diverte com pedacinhos de madeira que caem das mãos de seu Pai adotivo. Vai recolhendo-os, une-os... para fazer o que? Cruzes! Que pensamentos passam pela mente de Jesus? Pensa em sua paixão... Vejam-no... Ele nos viu e no-las oferece porque quer que o sigamos... Ele dá também cruzes à sua Santa Mãe que as recebe com bondade e com amor. Recusá-las-emos nós, então, depois que as aceitou Maria, e depois que escolhemos ser Irmãs e segui-lo bem de perto...? Mas vejam como Maria e Jesus obedecem a José. Eles não olham a sua dignidade e a sua superioridade em relação a José. José foi-lhes dado por Deus e isto basta. Ele é obedecido, honrado e servido. Que exemplo! Entendam e façam o mesmo…

Para a fundadora era habitual contemplar o mistério de Jesus, Maria e José seja no momento da encarnação em Belém seja no tempo do crescimento de Jesus no trabalho e no escondimento de Nazaré. Também para nós hoje seria muito útil retornar com certa freqüência a revigorar a nova familiaridade com Jesus, Maria e José:

A Sagrada Família do Deus feito Homem deve também ser objeto da sua ternura e do seu amor; devem muitas vezes visitar a ela em Belém, em Nazaré, em Egito para procurar de uniformar a estes santos personagens os seus gostos, os seus desejos, as suas inclinações, a sua vida. Com efeito, minhas caríssimas, quem deveria mais freqüentemente visitá-los, ir ter com eles, apresentar a eles homenagens, adoração, agradecimentos se não nós que estamos a eles tão perto e ligadas com o título que temos? A nossa indignidade não poderá nos impedir de nos aproximar a esta escola, porque ai está a própria humildade; não poderá nos impedir de nos aproximar a ela a nossa ignorância em aprender, porque ai as virtudes são fáceis; não poderá nos impedir de amar este mistério a nossa frieza e insensibilidade porque este è o mistério de amor: aproximemo-nos portanto com zelo e assiduidade e paramos ai com proveito. È este, vejam bem, è este o lugar no qual, se as vossas Noviças ai tomarem morada, aprenderão o preço dos sacrifícios, o mérito da obediência, a beleza da virtude, a felicidade e a segurança da vida escondida; è ai enfim, o lugar onde será possível criar verdadeiros modelos de grandes originais.

 

a. Jesus, o Filho do Pai

É o esplendor de Jesus que imediatamente envolve de luz especial todo o Mistério da Santa Família. A luz do rosto de Deus resplende em toda a sua beleza sobre o rosto de Jesus. À sua contemplação a Fundadora permanecia encantada:

Eis-nos a Belém! Ó, feliz Belém! Aqui, Irmãs, entremos com respeito, nesta humilde gruta, morada do Homem-Deus.

Não tenham medo: aqui todos tem livre acesso. Que bondade! Prostremo-nos em silêncio num canto deste lugar e olhemos com respeito estes três augustos Personagens do Céu, e com a luz daquele fulgurante esplendor que ilumina em cada parte a querida choupana, meditemos com atenção o que Eles dizem e fazem, o que aqui acontece... porque è a partir destes primeiros exemplos que as Irmãs da Sagrada Família devem formar o seu espírito.

No Menino de Belém e de Nazaré cada um de nós pode finalmente ver a imagem verdadeira e real de Deus. Procurado sobre tantas estradas da inteligência, da fantasia e de ingênuos trocados; temido, implorado, imaginado nas formas mais diversas, se revela na fragilidade desarmada obscuro recém nascido. Nele Deus aparece como amor gratuitamente e silenciosamente oferecido a toda existência humana para abri-la à felicidade e ao amor, para marca-la com uma esperança eterna (Jo 3,16). Este menino-Deus é amor que partilha totalmente a história humana para livra-la das múltiplas pobrezas:

Sim, por amor Jesus sofre, sofre por amor do Seu Eterno Divino Pai, do qual Ele quer a glória, e por nosso amor, de nós que tão pouco o merecemos. Por amor de que o ama, mas também de que não o ama, de quem o despreza e o ofende. Ó Caridade! Por amor aqui todos chama. Por amor aqui todos convida. Ó, roguemos a Jesus, roguemos a Maria, sua Mãe puríssima, roguemos a José, para que a caridade possa nos unir também a nós também num mesmo amor, num mesmo espírito, para amarmos junto com Eles a pobreza, os sofrimentos e as humilhações por amor a Deus, que…

Aliás, a seu modo de ver Ele se coloca ao lado com suma delicadeza e gratuidade de cada pobre e marginalizado mesmo porque pequeno e não conta, não deixa pegadas na história, não consegue fazer valer-se e não suscita nenhum interesse nos outros.

Pobreza, eis o que por primeiro cai sob o nosso olhar… Ó pobreza, quanto você é grande! Quanto você é honrada agora que foi escolhida como companheira por um Deus Menino!.. Ele, que com simples sinal podia chamar ao seu berço todos os reis da terra, quis os pobres, porque a pobreza tem por companheiros os pobres, goza e se contenta com a companhia deles.

Em Jesus menino o mais insignificante e esquecido dos seres humanos é enviado a Belém: “por amor aqui todos chama. Por amor aqui todos convida”. Por se ouvir narrar o amor do Pai: um relato surpreendente que coloca em relevo a lenha da manjedoura que se transformará na cruz e as faixas do recém nascido que se tornarão o lençol que envolverá o corpo santo deposto no sepulcro.

No rosto de Jesus menino: “Com a luz daquele deslumbrante esplendor (de Jesus) que por toda parte ilumina a querida cabana” é possível ver o rosto novo da humanidade, o rosto desde sempre sonhado por Deus e que representa a surpreendente tarefa da história humana.

“ Assim Jesus recebe os pastores, os acolhe com bondade, sorri ao seus rústicos e simples modos, lhes cumula de suas bênçãos, e longe de envergonha-los faz proclamar para todo o mundo este seu primeiro chamado” (Escritos de Fundação, 147).

Naturalmente o cristocentrismo da Cerioli não se condensa ou para somente em Jesus menino de Belém ou no artesão da oficina de Nazaré. Segundo a específica espiritualidade do tempo Ele é o modelo completo e absoluto de todas as virtudes morais, privilegiadas com respeito àquelas teologais, que caracterizam a pessoa e a obra total do nazareno. É o modelo moral que se qualifica como o Cristo sofredor. Em amplos setores dos seus escritos, de fato, emerge (também um pouco sombrio aos nossos ouvidos) a espessura deste sentimento próximo a reduzir a religião a emocionalismo e com o risco de conduzir a devoções esteriores quando não forem iluminadas e sustentadas pela catequese e pela vida sacramental. Em todo caso na Cerioli se trata também de um sentimento de compaixão amorosa de quem, descobrindo a dor de Cristo e a profundidade de seu amor, que retribuí-lo, amando-o e colocando-se na mesma situação, isto é, no sofrimento e na dor:

“Como Cristo ardia todo de caridade se deu a procurar a glória de seu Pai e a salvação das almas. Fez sacrifício da sua própria glória com o deixar o céu, e com o vir sobre a terra; fez sacrifício do seu repouso com o fadigar todo o dia e com o passar muito tempo das noites na oração e sem ter tempo de comer; fez sacrifício até de sua vida dando-se em poder de todas as dores e de todas as ignominias da sua paixão e derramando sobre a cruz até a última gota do seu sangue” (Escritos de Fundação…).

E ainda:

“Cristo era sujeito às dores; o seu coração se contristava como aquele de um homem; ele nunca deu sinal de cólera se não contra a dureza da alma e a insensibilidade. Repetia continuamente: “Amai-vos uns aos outros”. “Meu Pai,- ele rezava debaixo da espada de seus carrascos – perdoais a estes porque não sabem o que fazem”. Próximo a separar-se de seus queridos discípulos se deu improvisamente a chorar, sentia os terrores do túmulo e as angústias da cruz: um suor de sangue banhava as suas divinas faces, se dolse que seu Pai o tivesse abandonado. Quando o anjo lhe apresentou o cálice Ele disse: o meu Pai, faça que este cálice se afaste de mim. Mas se eu devo bebê-lo, seja feita a vossa vontade. Foi então que lhe escapou da boca aquela palavra da qual espirou a sublimidade da dor: a mia alma está triste até a morte. Ah! Se a moral mais pura e o coração mais manso, se uma vida passada combatendo os erros e aliviando os males dos homens são os atributos da divindade, quem pode negar que Jesus Cristo não seja divino? Ele foi exemplo de todas as virtudes. A amizade lhe vê sobre o seio dormindo o discípulo, ou no ato de confiar a própria Mãe a este discípulo; a caridade o admira no julgamento da adúltera; a piedade o encontra por toda a parte no ato de abençoar as lágrimas dos infelizes; no seu amor para com os pequenos se manifestam a inocência e o seu candor; a força da sua alma resplandece em meio aos tormentos da cruz e o seu último suspiro de misericórdia. Somente Cristo é sem mancha: Ele é a mais bela imagem daquela suprema beleza que senta sobre o trono dos céus. Puro e sacro como o tabernáculo do Senhor, não respirando se não o amor de Deus e dos homens, infinitamente superior às vanglorias do mundo, Ele procurava por um caminho de dores a nossa salvação, constringindo os homens com o império de suas virtudes a abraçar a sua doutrina e a imitar uma vida que eles necessitavam de admirar” (Escritos espirituais).

De semelhantes catequeses contemplantes deveriam derivar o abandono filial e confiante em Deus, a obediência ao seu querer e o morrer a si mesmo: condições necessárias para operar um serviço generoso para com os irmãos necessitados e mais abandonados. Neste sentido o serviço ao próximo como modo de partilhar a vida íntima de deus e de viver a sua misericórdia não será nem de longe uma filantropia mas uma participação à caridade do Senhor que recomendava de não faltar a assistência a nenhuma das crianças pequenas e prometia que tivesse ensinado a fazer o mesmo seria grande no reino de Deus. Também deste ponto de vista se compreende que a devoção à Sagrada Família é um mistério singularíssimo que se revela como fonte e modelo do serviço ao próximo: ser chamada a partilhar a confiança de si ao Pai se traduzia para a Cerioli, no sentir-se impulsionada a partilhar com e como Cristo o desígnio de Deus Pai de doar a vida aos homens pobres de vida.

 

b. Maria, a Mãe do Filho de Deus

Da contemplação de Maria como mãe de Deus chamada a aceitar a renúncia à maternidade carnal para acolher aquela espiritual sobre toda a Igreja, já colocamos em relevo o grande significado que para a Cerioli teve no desenvolvimento da sua própria vida espiritual. Acrescentamos agora algumas outras reflexões que enriquecem as anotações precedentes.

A Cerioli, como se sabe, mesmo com os seus abundantes escritos jamais pretendeu fazer da teoria espiritual ou teológica porque não estava em condições e porque não lhe fora pedido. Anota e comunica somente aquilo que vive e vive e testemunha muito mais densamente de quanto seja em grau ou intenda exprimir. Se, de fato, tomamos em consideração as suas indicações em torno do mistério de Maria nos impressiona não pouco a forma enxuta dos apelos teologais e ainda mais a transposição destes em prática devocional popular a serviço de um visão de mundo conservadora e fixista:

“Minhas caríssimas, e a devoção a Nossa Senhora? Inspirai vos grandemente. Dizei a eles que Maria Santíssima é nossa verdadeira Mãe, nossa protetora, e nossa advogada junto ao Senhor. Depois de Deus Maria Santíssima deve ser o objeto de nossos mais caros afetos, de nossas atenções. Ensinais a elas de bom agora a distinguir o Sábado para sua honra com alguma pequena mortificação, ou sacrifício adequado para a idade delas, a preparar-se para as suas festas com ser mais sabias, mais atentas ao deveres, mais boas, mais mortificadas. Quem amem cantar os seus louvores, com breves e simples canções, para que se acostumem, e se habituem a canta-las também em outros lugares para o alívio delas invés de tantas outras fúteis, e tolas que ouvem no mundo, e aprendem com tanta facilidade. Usais de exemplos, especialmente para inculcar a devoção à Santíssima Virgem, e escolheis os mais próprios e adequados donde obter aquilo que vocês as elas recomendam (Escritos de Fundação…).

Na realidade, em total coerência com o tema central de sua espiritualidade que exigia de viver e de dar testemunho mais que falar, com uma atenta observação da sua figura e da sua história não podemos não constatar que na Cerioli a penetração do mistério de Maria foi ousada, corajosa e original.

Anos-luz longe da nossa cultura feminista ou pós-feminista nunca usa uma palavra para reivindicar a dignidade da mulher, mas, dentro de um mundo não pouco clerical, machista e hostil, a Fundadora se ergue justamente como mulher em tarefas e funções de notáveis consistência e autonomia. Não a toca nem mesmo de longe a idéia de combater a subalternidade ao homem por parte da mulher do seu tempo, mas empenha todas as suas energias para colocar junto de homens rudes, violentos e ignorantes mulheres instruídas e orgulhosas de si para renovar assim, a partir da família, toda a sociedade.

Não explica nunca com palavras que o acolhimento que cada mulher pode realizar em si mesma é o traço mais específico do feminino que também todo homem é chamado a respeitar e receber como elemento de profunda reciprocidade do próprio existir, mas se dá concretamente para acolher as vidas miseráveis das crianças sem futuro dos seus lugares encaminhando sobre a mesma estrada discípulas e discípulos que deverão interiorizar a vida dos abandonados não para possuí-la mas para restitui-las.

Nunca escreve que mulher é um certo modo de ser em profundidade, é um lugar puro de toda exterioridade e aparência, é um seio virginal capaz de hospedar dentro de si o todo do mistério da vida, mas combate uma duríssima batalha contra a superficialidade, a dissipação e a futilidade reconduzindo a mesma Maria da Santa Família a uma essencialidade finamente pedagógica:

“ Maria aqui sentada. Ela trabalha, trabalha para a sua Santa Família. Irmãs maravilhais, e admirais. A Mãe de um Deus... a vês Ela prepara e apronta o alimento, lava as louças, mantêm limpa e varre a casa. Que majestade em tanta humildade, que limpeza em tanta pobreza, que ordem em tanta miséria, e porque. Porque Maria está recolhida, não fala, porque trabalha com tranqüilidade, com amor e pelo seu Deus” (Escritos de Fundação…).

Enfim, como a virgindade acolhedora de Maria se exprime no consentimento da liberdade mais pura, na colaboração na obra Daquele que a escolheu e a plasmou na graça, na indissolúvel ligação do seu ser virgem e mãe, assim o feminino testemunhado na solidez da mulher Cerioli não é nada de condescendente e alienador; é invés de mulher forte e coragiosa que, como Maria, não duvida de proclamar que Deus é vingador dos humildes e dos oprimidos e derruba dos tronos os poderosos do mundo (Lc 1,51 53); que a paternidade de Deus tem também a natureza da maternidade de Maria que ela fez própria para que é impedido de habitar o mundo.

 

c. José, o esposo de Maria e o pai putativo de Jesus

São José recebeu uma particular simpatia e admiração por parte da nossa fundadora. Já vimos por quais razões. Era costume a ele atribuir a paternidade da sua fundação. Ele tinha a tarefa de guiar a afirmação no mundo inteiro do anúncio carismático “Sagrada Família” oferecido como própria e verdadeira benção a todos os homens:

“Òh, nesta noite recordamos o nosso grande Pai, o glorioso São José, oh como deve alegrar-se ao ver aqui unidas todas as suas filhas, pois foi Ele próprio sabeis, somente Ele que ideou e formou esta Casa, este Instituto... oh! não podemos nem duvidar, não vedes por acaso a sua proteção e a sua assistência nas graças, e benefícios que continuamente nos dispensa, que diria quase surpreendentes, e milagrosos?. E se nós corresponderemos às suas graças e intenções vereis que este pequeno Instituto crescerá tanto, tanto... Olhais, nós somos como a primeira semente que São José jogou neste jardinzinho por ele mesmo criado, se a semente florescerá, e trará frutos que Ele deseja, a recolherá e a espalhará depois em outros jardins, e em outras terras por todo o mundo para a maior glória de Deus e como benção do homem...” (Escritos de Fundação,…).

Que seja José a ter esta tarefa entre as pessoas da Santa Família se explica pelas razões acima citadas mas também pela estatura espiritual de tais personagens. Já em Mateus Ele é o protagonista da narração do mistério da encarnação. Segundo o primeiro evangelista, de fato, a anunciação do nascimento de Jesus é reservada a José e não a Maria, como é narrado em Lucas (Mt 1,20-21).

O esposo de Maria, renunciado ao próprio projeto humano de família, aceita aquele que Deus o oferece. Nesta nova família não é chamado a eliminar os sentimentos do amor, da ternura e da atenção, mas a vivê-los sobre um plano diverso em sintonia com aquela que será a revelação operada por Jesus com o seu ensinamento em torno da nova família de Deus (Igreja) na qual todos somos chamados. Ele que de modo corajoso e fiel se dispôs concretamente a tomar sobre si o julgo leve do Pai (Mt 11,28-30) no silêncio humilde e na simplicidade do escondimento, pela Fundadora é considerado o verdadeiro pai das crianças sozinhas e abandonadas por ela acolhidas.

E nesta ótica colhe-se concretamente como o justo que de modo exemplar acolhe e testemunha o ensinamento de Deus que precede a visibilização de Jesus. Fazendo-se livremente pai putativo do Filho de Maria e do Espírito Santo demonstra que o ensinamento do próprio Jesus, de fato, remeteria a um ensinamento mais antigo e ao mesmo tempo mais novo e definitivo que era o Espírito Santo e equivalentemente à instrução do mesmo Pai. Aquele Espírito Santo que, como sabemos, grita dentro de nós Abbá, Pai (Gl 4,6; Rm 8,15). E José dentro da Santa Família de Nazaré é visibilização concreta desta “bendita proclamação” de fé.

“Vejam José como olha a sua casta esposa, a pura, a doce Maria. O suor banha a sua augusta fronte, a fadiga o agrava, nada menos Ele trabalha, trabalha sempre é feliz e agradece de coração seu Senhor de poder com os seus esforços e com as suas fadigas sustentar e alimentar aqueles queridos penhores, delícia dos anjos, sua glória, seu amor, sua consolação. Felizardo José! Quanto bem correspondeste à sua missão... E nós como correspondemos ao nosso chamado. Aos seus pés Jesus, ó o bom Jesus feito pequeno por nosso amor. Ele brinca, e se diverte com os pedaços de lenha que caem das mãos do seu Pai putativo: os vai recolhendo, os une... para fazer o que? Cruzes. Quais pensamentos passam na mente de Jesus? Pensa na sua paixão... Olhem no... Ele nos viu e nos oferece as, porque quer que o sigamos... Ele dá uma cópia até mesmo à sua Mãe que a recebe com bondade, e com amor. As recusaremos nos mesmo depois que as aceitou Maria e depois que escolhemos de ser lhes irmãs e segui-lo assim de perto...” (Escritos de Fundação…)

Ao apresentar a imitação da exemplaridade de José à fundadora não escapa que Ele como já Abraão (Gn 22,1-18) é chamado a renunciar ao filho da posteridade porque somente aceitando esta prova se realizarão os frutos da promessa. Como para indicar aos seus futuros seguidores que poderiam realizar a sua irrenunciável vocação à paternidade espiritual somente através da renúncia ao ato humano de gerar sexualmente. Tal escolha nunca deveria ser considerada desprezo do amor e da sexualidade humana mas assunção da maneira divina de gerar através do amor feito de generosidade, de doação total de si e de atenção para todos:

“Por quanto seja civil a condição deles não desdenhem de tratar familiarmente com os seus pobres órfãos, os amem como tantos pais e como tais tenham para com eles toda a atenção e todo cuidado apesar de rudes e miseráveis, considerando-os como seus depósitos confiados por Deus e por São José” (Cerioli, primeiras idéias e primeira orientação dos irmãos da Sagrada Família, 1863).

Concretamente depois, aos olhos da Fundadora em José se concentram visivelmente as virtudes morais mais típicas da vida e do testemunho do nosso carisma. Além da referencia fontal à paternidade-maternidade de Deus a mediar a todas as criaturas, o religioso da Sagrada família em José tem um modelo terno e estimulante de pobreza, de simplicidade, de humildade, de familiaridade, de laboriosidade e de silencioso recolhimento:

“Simplicidade, minhas caríssimas, simplicidade, se deveis ser simples nos costumes e nas maneiras, os deveis também ser nas vossas escolhas e nas vossas instruções. [...] Quero que a simplicidade fosse o hábito de uma irmã da Sagrada Família e de todas as suas filhas, que ela resplandece nos vossos modos, nos seus traços, nas suas palavras; que brilhasse até mesmo sobre as suas frontes para fazê-las amar e apreciar por todos os homens, que São José o faça...” (Escritos de Fundação…).

Ele como crente que preso às suas inquietações e contradições da existência sabe sempre encontrar-se em condições de perceber de modo direto e claro a palavra que Deus lhe dirige e de ver a reposta eficaz à pergunta que ele se põe, mais que encontrar segurança aos temores que encontra, requer uma especial devoção:

“É necessária a devoção mesmo a São José ao qual a casa está consagrada, e o Instituto deve a sua fundação, advogado potente junto ao Senhor e no qual devemos colocar a nossa confiança e toda a nossa confidencia, como a um Pai conselheiro e especial protetor” (Escritos de Fundação…).

 

 

II PARTE

O CARISMA SAGRADA FAMÍLIA E SEUS TRAÇOS ESPECÍFICOS

 

Depois de ter descrito sinteticamente o sentido e o valor da espiritualidade do Carisma “Sagrada Família” queremos agora tratar – sempre sinteticamente – os seus traços específicos e irrenunciáveis. O carisma “Sagrada Família” é uma experiência global de fé que não é fácil decompor em aspectos e traços. Todavia, pensamos que seja pedagogicamente e catequeticamente uma boa razão de clareza fazer esta tentativa, embora existam riscos a se considerar. O primeiro perigo é aquele de não distribuir corretamente os acentos absolutizando um aspecto em prejuízo de outros. O segundo perigo é de esquecer que os vários traços estão unidos não somente pelo fato que todos juntos constituem o único carisma mas sim também pelo fato que todos manifestam, embora com a modalidade própria de cada um, a única lógica evangélica–cerioliana. Cada traço deve revelar os conteúdos inconfundíveis de tal originalidade. Neste sentido se pode dizer que cada traço do carisma reproduz o todo.


1. O anúncio da paternidade universal de Deus coração do carisma da ''Sagrada Família''

O carisma Sagrada Família é a determinação definitiva indisponível da fé cristã dos religiosos da Sagrada Família. Ele é uma leitura – nunca definitivamente concluída e assimilada – de um aspecto da revelação evangélica que dá salvação a quem a acolhe e a experimenta. O anúncio do carisma Sagrada Família é o anúncio de Jesus Cristo Revelador do Pai e precursor do Espírito Santo e o anúncio de Jesus é o coração do carisma. Todavia a singularidade do carisma Sagrada Família não está em uma doutrina a ensinar, sim no evento evangélico-cerioliano. O laço profundo que o Espírito colocou entre a história de Jesus, a da Cerioli, de Maria e José e a nossa história pessoal torna salvífico e original o anúncio apostólico dos religiosos da Sagrada Família. Eles, como o apóstolo dos gentios, se deixam profundamente interpelar pela exigência de partilhar com os outros o mistério salvífico de seu carisma:

''como poderão crer sem ter ouvido falar? E como poderão ouvir falar sem alguém que o anuncie?'' (Rm 10,14).

Naturalmente trata-se de um anúncio que pode acontecer em graus e formas diferentes. Mas o anúncio do carisma é sempre a tensão profunda e nativa de todo gesto de vida e de apostolado Sagrada Família (DF '95,21 ).

O carisma Sagrada Família contém a revelação que o Espírito Santo fez à Cerioli. Conforme esta revelação, testemunhada por ela, Deus Pai e Mãe de todas as pessoas quer para elas vida plena. De maneira especial, a exemplo do mistério da Família de Nazaré onde Jesus, impedido de habitar o mundo, foi acolhido e criado com cuidado por José e Maria afim de que cumprisse a missão à qual tinha sido destinado, Deus quer um socorro especial e um cuidado particular de tipo cerioliano exprimidos em prol de todo pequeno, pobre e sem futuro (Atas e Decisões do XVI Capítulo geral, 5; DF '95,22).

Deus chamou os religiosos da Sagrada Família a descer pelos caminhos do mundo

''a cuidar da imagem divina deformada nos rostos de irmãos e irmãs, rostos desfigurados pela fome, rostos decepcionados por promessas políticas, rostos humilhados de quem vê sua cultura desprezada, rostos assustados pela violência cotidiana indiscriminada, rostos angustiados de menores, rostos de mulheres ofendidas e humilhadas..." (VC 75).

Neste caminho eles têm uma modelo histórico irrenunciável na exemplaridade de sua mãe Fundadora que se dobrava sobre as crianças abandonadas:

Juntava à cura do corpo, os mais preciosos confortos espirituais, e aqueles pobrezinhos, dando vazão aos seus sofrimentos, confidenciavam-lhe as suas penas e retiravam de suas palavras e de seus conselhos as mais doces consolações. Oferecia a eles provisões de alimentos e providenciava-lhes o necessário em roupas para a casa, vestuários, dinheiro, etc... Aos jovens não dava dinheiro, mas roupas e comida, segundo a necessidade de cada um. Todas as crianças mendigas que vinham pedir esmola à sua porta, exigia que essas fossem apresentadas a ela e vendo-as maltrapilhas e macilentas, introduzia-as no palácio, onde ficava toda alegre em volta delas a perguntar-lhes de sua situação e da de suas famílias. Ajudada pelos empregados, tirava-lhes as roupas, limpava-as e vestia-as com roupas novas que tinha já preparadas com esta finalidade, acariciava-as e despedia-as alegres e satisfeitas, enquanto ela, cheia de alegria, exclamava: “Veja, demos vida a estas pobres criaturas. Não parecem mais aquelas. Que bom se pudéssemos tê-las aqui conosco agora que estão assim tão limpinhas! Pobrezinhos, não têm ninguém que cuide delas, são órfãs, no entanto, são filhos de um mesmo Pai, são nossos irmãos”. (Longoni, 47-48).

Desta forma a mediação da salvífica e providencial paternidade- maternidade do Pai, que é tarefa de todos os cristãos, se torna especialíssima missão à qual são habilitados os religiosos da Sagrada Família. Por isso, livres de qualquer tipo de gabo, embora não desdenhem competências e instrumentos qualificados, anunciam a todos este mistério de salvação através do testemunho de uma fraternidade familiar, pobre, humilde, simples, laboriosa. Eles, em comunhão de vida e de colaboração com as irmãs da Sagrada Família, fazendo-se pobre para o Reino com a caridade, a educação e a instrução do pequenos socorrem as famílias dos empobrecidos do mundo assumindo a opção preferencial pelos pobres e mantendo sempre vivos os temas da justiça, da solidariedade e da libertação.


2. A vida fraterna em comum lugar, fonte e energia do carisma

O carisma, como determinação da fé, é uma notícia que agrega, faz nascer a Congregação como Igreja, faz surgir em vários lugares novas comunidades (Atas e decisões do XVI Capítulo geral, 6).

Cada um de nós entrou na vida fraterna em comum só em conseqüência do fato que com a profissão religiosa acolheu, mais ou menos conscientemente, o apelo do Jesus da Cerioli.

A escolha da vida fraterna em comum, embora não seja prioritária mas dependente da escolha da vocação e do seguimento, é essencial para a nossa vida e a nossa missão (Const. VIII e IX).

Na comunidade não nos escolhemos uns aos outros, nem se quer escolhemos uma comunidade para dar sentido à nossa vida, sim a pessoa de Jesus, contemplada no mistério da Sagrada Família enquanto realiza dócil e corajosamente os planos do Pai. E todavia:

Os religiosos lembram que jamais poderão ter plena compreensão da sua vida se não perceberem que a sua consagração a Deus e o seu serviço ao próximo não tem caráter individual, mas comunitário. (Const. 65)

Eles de fato,

Solícitos ao convite da Igreja para adaptar o seu apostolado às exigências da cultura, às circunstâncias sociais e econômicas, especialmente nos lugares de missão, enquanto se mostram conscientes de que a sua primeira missão é a comunidade, adequam o seu apostolado, criando comunidades em condições de corresponderem eficazmente às solicitações dos homens a que são enviados. (Const. 84).

O carisma “Sagrada Família” na intenção da Fundadora e na atuação de nossa tradição, embora seja especificadamente apostólico, deve ser vivido em espírito comunitário. Esta exigência hoje em dia encontra muitas dificuldades para ser observada por razões muito complexas de fortes transformações sócio-culturais e religiosas. Em tal situação, renunciando a uma atitude de juízo moralístico que denuncia o iper-individualismo, o desamor para a oração em comum e pessoal, o emburguesamento, etc..., é importante recuperar as profundas raízes carismáticas que podem de novo favorecer um profícuo equilíbrio entre polo apostólico e polo comunitário na nossa vida cotidiana.

È um fato que as nossa Constituições falam de “adequar o apostolado” (Const. 84) às exigências da vida comunitária; que afirmam que “os religiosos da Sagrada Família têm consciência de que sua primeira missão è a comunidade” (Const. 84) e que lembram que “a atividade apostólica está confiada para a inteira comunidade” (Const. 85); assim, não menos evidente è o movimento quase contrário da vida prática de Congregação, que visa dobrar a vida comunitária às exigências do apostolado consideradas primárias. Mas não devemos nos surpreender mais do necessário: até que a recuperação atualizada do carisma não for difundida e vivida, entre apostolado e vida comunitária tender-se-á sempre a praticar uma tensão complicada, muito sensível às correntes de opinião (também pessoais) que, não sento o êxito intencional de uma síntese carismática ousada, aparecerá como indicador bastante significativo de nossa não concluída definição da identidade carismática.

O último trabalho capitular da Congregação (1995) não deixou de exprimir um louvável esforço na recuperação do sentido comunitário de nossa vida e de nossa missão, como nos atestam as seguintes afirmações do Documento final:

“A experiência da Fundadora, a tradição de Congregação, as Constituições nos lembram que o caminho principal a percorrer para atuar a renovação è a qualificação da vida comunitária e pessoal” (nº 1). “A discussão dos religiosos capitulares deu início à consciência que è necessária uma recuperação firme e paciente da regularidade da vida espiritual para tornar clara a identidade de cada religioso. Isso favorece também o desenvolvimento e a firmação do caráter comunitário e apostólico da vida ro religioso da Sagrada Família” (nº 3).

Tais indicações correm o risco, todavia, de não facilitar verdadeiros progressos pois não nascem da recuperação assimilada das exigências carismáticas mas param no nível de genérica solicitação moral.

Uma verdadeira virada inovadora para considerar ao mesmo nível essenciais no carisma “Sagrada Família” o valor da vida comunitária e o da vida apostólica se encontra nos escritos de nossa Fundadora, onde ela considera o agape como único laço que deve unir os corações dos seus religiosos, considerando-o condição indispensável para o exercício do apostolado do seu carisma:

A Caridade è aquela que alimenta as obras de misericórdia, unindo os membros de uma Comunidade em santa união para amar a Deus e, por seu amor, ajudar o próximo…. A caridade è aquela que alimenta as obras de misericórdia, e torna doces as penas mesmas e os sacrifícios mesmos. Esta è a verdadeira caridade; aqui è aonde, praticando-a, formar-vos-eis fortes e robustas na escola da perfeição. Ó caridade, virtude doce, virtude preciosa, virtude divina, laço dos corações, felicidade da casa religiosa! Bem-aventurada aquela Casa, aquele Instituto, onde o amor reina vivo e duradouro. O Senhor colocará nela a sua moradia; resistirá firme contra os ataques e violências dos malvados, quando quiserem perturbá-la (Escritos….)

Neste sentido, e só neste, a vida fraterna em comum pode e deve tornar-se o lugar, a fonte e a energia do apostolado dos religiosos da Sagrada Família. Trata-se de harmonizar com criatividade equilíbrios muito delicados, mas não esquecemos que tal propósito corresponde profeticamente a um firme e vibrante apelo da Igreja:

Toda a Igreja espera muito do testemunho de comunidades ricas « de alegria e de Espírito Santo » (Act 13,52). Ela deseja oferecer ao mundo o exemplo de comunidades onde a recíproca atenção ajuda a superar a solidão, e a comunicação impele a todos a sentirem-se corresponsáveis, o perdão cicatriza as feridas, reforçando em cada um o propósito da comunhão. Numa comunidade deste tipo, a natureza do carisma dirige as energias, sustenta a fidelidade e orienta o trabalho apostólico de todos para a única missão. Para apresentar à humanidade de hoje o seu verdadeiro rosto, a Igreja tem urgente necessidade de tais comunidades fraternas, cuja própria existência já constitui uma contribuição para a nova evangelização, porque mostram de modo concreto os frutos do « mandamento novo ». (VC 45).

 

3. A opção preferencial para os pobres: o compromisso com a libertação, a solidariedade e a justiça

A Congregação da Sagrada Família em Jesus e na Cerioli que anuncia contemplando sua opção preferencial para os pobres, assume como própria esta escolha com o testemunho dos seus religiosos. Ela não è tática nem sentimental, mas carismática. Jesus falou de Deus e salvou os corpos. A Fundadora, tornada pobre para o Reino, indicou o mistério da Santa Família e socorreu e promoveu os pequenos sem futuro.

O religioso da Sagrada Família como pobre se compromete com a libertação, a solidariedade e a justiça, mas sabe que a própria promoção do homem è missão Sagrada Família só se revela os traços da originalidade do carisma (Atas e decisões do XVI Capítulo geral, 52-54).

O religioso da Sagrada Família, de fato, em consequência do carisma recebido, possui uma força e uma lucidez que não são dadas a todos. Elas dizem respeito ao compromisso e à convicção de que a infelicidade e a dor de milhões e milhões de crianças, homens e mulheres no mundo derivam da falta de estabilidade religiosa, social, cultural, económica, familiar e que a pobreza no mundo tem o nome de pecado de idolatria. Por isso, habilitado pela própria vocação se torna pai e mãe e irmão para quem não tem futuro. Por isso, ser se deixar desencorajar pela complexidade e amplitude dos problemas do sub-desenvolvimento, em toda sua obra, se compromete com os grandes temas da libertação, de justiça e da solidariedade. Sabendo bem, todavia, que os homens, as mulheres e as crianças, começando mesmo dos mais pobres e sozinhos, necessitam da solidariedade de Deus, não principalmente da nossa. Nossa solidariedade e nosso socorro podem tornar crível os de Deus tornando-os visíveis, fazendo-os tocar com mão, mas não podem substitui-los.

A solidariedade libertadora, que a experiência histórica da Fundadora nos ensinou, è um nosso imprescindível dever carismático; ela será autêntica e eficaz para a edificação da Igreja quando derivar da re-atualização de sua evangélica paixão para os mais abandonados. È difícil e quase sobre-humano, hoje em dia, cuidar dos últimos da terra envolvidos em processos socio-económicos globalizantes tão complexos quão dramáticos. Devemos lembrar que a interdependência de todos os povos, no bem e no mal, è um dado que hoje ninguém pode negar. E todavia o religioso da Sagrada Família pode ir além do puro dado socio-económico para alcançar um dado teológico-carismático: Deus pensou os seres humanos não como ilhas, mas como pessoas, essencialmente interdependentes e solidárias, no mal (unidade em Adão) e no bem (unidade em Jesus Cristo). È um projeto de humanidade que encontra sua raiz e sua última justificação no próprio Deus que a revelação cristã reconhece como solidariedade entre as pessoas.

A história humana não è se não um reflexo, ou uma extensão para fora, daquela solidariedade vital que Deus vive no seu interior. Da constatação da interdependência passa-se ao dever da solidariedade. Não só necessidade de sobrevivência – hoje começamos a compreender um pouco que ou estaremos melhor todos ou todos estaremos mal – mas dever moral, dever de consciência que è para todos, mas para nós de maneira especial, pois somos chamados a mediar a solidariedade, a libertação e a justiça do Pai que quer vida plena para todos.

Um aspeto importante da solidariedade que liberta e o pleno reconhecimento dos direitos de todos. Porém è possível re-conhecer quando se conhece. Hoje em dia não è mais aceitável viver com conhecimentos limitados: o panorama que deve ser constantemente observado è o mundo inteiro, também para a nossa solidariedade na Itália. A medida do reconhecimento dos direitos dos outros e a amplitude dos nossos direitos. È necessário reconhecer aos outros exactamente todos os direitos que reconhecemos a nós mesmos. Não existem pessoas com mais direitos e pessoas com menos direitos.


4. A atenção à família humana com a tarefa educativa e de instrução para as jovens gerações

O coração do anúncio carismático Sagrada Família que diz respeito a Jesus, Cerioli, Maria e José, fala da Família Divina – a Trindade – da Santa Família e da família humana. O próprio nome da nossa Instituição marca de maneira definitiva a intenção da fundação da madre Cerioli: dar futuro aos pequenos sem futuro providenciando para eles uma família que os tire do abandono e ao mesmo tempo os habilite a criar novas família tão cristamente engajadas ao ponto de se transformar em agentes da renovação da sociedade. A Congregação, embora de forma insegura e setorial, na sua tradição instruída pela própria Fundadora, sempre foi consciente da importância da família para o crescimento da pessoa, o desenvolvimento da sociedade e a vida da Igreja. Ela própria, por vontade da madre Fundadora, apresentou-se aos abandonados como família pois está muito convicta que ela è o primeiro lugar onde a personalidade se forma recebendo o sentido da existência e è a comunidade onde se realiza a comunhão das pessoas como sinal da civilização do amor, pois recebe sua raiz mais profunda e sua dignidade do próprio mistério do amor de Deus.

As diferentes condições culturais e sociais, a nível planetário, levam hoje a questionar o significado da instituição familiar propondo modelos de vida conjugal longe do desígnio de Deus: o enfraquecimento da dimensão religiosa da existência e a separação entre fé e vida, tão como a assustadora disparidade de oportunidades económico-sociais que condiciona milhões e milhões de famílias, ou a dolorida e difundida realidade da guerra, põem a família em condições de dificuldade, de solidão, de trágico abandono, que se tornam mais agudos pela perda de um tecido humano e social de acolhida, de solidariedade, de justiça, de paz. A Congregação da Sagrada Família organicamente dependente e próxima das Igrejas particulares, no seu apostolado: se esforça de despertar nos casais, nas família e em todos os fieis a consciência das dimensões constitutivas do matrimónio cristão; ajuda os casais e as famílias a viver sua específica vocação e missão; desenvolve uma cultura da família que sabe acolher e cuidar da vida, como José e Maria acolheram e criaram Jesus.

Na cura pastoral de todo tipo, a ação dos religiosos da Sagrada Família se compromete em reconhecer com uma mudança radical de mentalidade que a família è por sua natureza o lugar unificador objetivo de toda a pastoral, pois seus objetivos de fato se dirigem e se colocam dentro da comunidade familiar. Na nossa tradição de Congregação o interessa para a família expressou-se sobretudo através da educação e instrução dos seus pequenos. Com a criatividade e a inteligência que sabem exprimir em cada missão, os religiosos da Sagrada Família fortalecem esta atividade educativa e de instrução para estar ao lado das famílias na tarefa de ajudar as jovens gerações a tomar gradualmente e progressivamente consciência de sua identidade pessoal, social e cultural. A iniciativa educativa-instrutiva dos religiosos da Sagrada Família sempre favorece uma aprendizagem a ser filhos de uma família e de um povo cujo Pai-Deus deseja garantir vida plena para todos (DF ’95, 25-29).

A Congregação em si sente o dever de comprometer-se sobretudo com situações como: analfabetismo primário e de retorno, tão como o abandono das aulas; as crianças e os/as adolescentes que precisam de cuidado especial porque são de família com dificuldades; grande número de crianças de rua que nas margens do contexto urbano são envolvidas nas mais perigosas humilhações. O religioso da Sagrada Família, instruído pela sua Fundadora e pela Igreja, sabe que a colaboração mais específica para a emancipação dos povos consiste na formação das consciências.

A madre de Soncino repetia para as suas irmãs:

“Vejam, portanto, o empenho e a disposição que devem ter! Trata-se nada menos de dar às vossas filhas diria – se não me engano – uma segunda criação e mais excelente da primeira! Vejam como è grande a vossa missão”. (Escritos…).

A Igreja num seu importante documento missionário afirma:

“O desenvolvimento de um povo não deriva primariamente nem do dinheiro, nem das ajudas materiais, nem das estruturas técnicas, sim da formação das consciências, do amadurecimento da mentalidade e dos costumes. È o ser humano o protagonista do desenvolvimento, não o dinheiro e a técnica. A Igreja (a Congregação) educa as consciências revelando aos povos aquele Deus que procuram, mas não conhecem, a grandeza do ser humano criado a imagem de Deus e por Ele amado…” (RM 58).


5. Comunhão de propósitos com as irmãs da Sagrada Família

Muito sugestivo e cheio de promessas nos parece o projeto de anunciar a paternidade e maternidade de Deus para quem, pequeno e excluído, não tem futuro, em comunhão de propósitos com as irmãs da Sagrada Família. Este è um conteúdo autêntico do nosso carisma, que espera de ser valorizado como se deve (Const. 9); è um horizonte profético e simbolicamente prometedor.

Compreendemos as dificuldades concretas que se interpõem a este projeto, mas ninguém pode reter o Espírito Santo. Com quase certeza será possível começar alguma experiência mais nas missões do que na Itália, onde situações complexas de história e de tradição tornam difícil esta perspectiva, sem porém exclui-la. Vida em comum, mesmos caminhos formativos e apostólicos são horizontes disponíveis para as pessoas consagradas no nosso carisma que vêem na relação colaborativa com as irmãs uma maneira especial e profética de significar a surpreendente vitalidade daquele Espírito Santo que inspirou a nossa Fundadora. Os religiosos que quiserem se disponibilizar para esta experiência deverão ser habilitados a neutralizar as tendências machistas e clericais que não poucas vezes prosperam nas comunidades.

 

 

CONCLUSÃO

O CARISMA VIVE EM RAZÃO DA SUA ESPIRITUALIDADE

 

O tema da espiritualidade do carisma tem a ver com a história de uma docilidade ao Espírito (a de Paola Elisabete Cerioli) para o testemunho de uma maneira particular de edificação da Igreja servindo a verdade e a promoção da caridade (com o carisma Sagrada Família). Ela decreta de maneira absoluto o primado do espiritual. De maneira específica comporta o exercício fiel e constante da contemplação do carisma no mistério da Santa Família de Jesus, Maria e José, onde resplandece uma atuação inalcançada e inalcançável da dinâmica vital trinitária. Só alimentando-se a esta fonte vital o religioso da Sagrada Família se torna capaz de ir para o mundo.

A importância da espiritualidade específica do próprio carisma è portanto tão decisiva para um religioso que se deve reconhecer que só sua presença permite o surgimento da vivência carismática Sagrada Família. Se por muito tempo pensou-se o apostolado só em termos de agir, hoje já tem clara consciência de que as obras e as instituições não são suficientes para fazer verdadeiros religiosos da Sagrada Família; que só os que são animados por um profundo dinamismo interior sabem de verdade comunicar a esperança e a salvação do carisma, sabem libertar, sabem socorrer, sabem educar, sabem ler a realidade com os olhos de Deus e se tornam profetas. Claro: todos nós de alguma forma já vivemos esta realidade, mas precisamos intensificar os esforços e qualificar os métodos para um progresso não mais adiável da renovação. A espiritualidade não è questão para almas bonitas, mas o próprio coração da experiência de todo apostolado.

A identidade mais profunda do religioso da Sagrada Família consiste no seu ser consagrado para a causa do carisma (DF ’95, 1). De fato ele, tendo feito total e irrevogável dom de si a Deus, è aquele que recebe dEle a habilitação a ir aos irmãos para testemunhar com a vida e as palavras a paternidade-maternidade de socorro de Deus para todos em Jesus Cristo e no Espírito. Ele totalmente concentrado sobre o carisma Sagrada Família, como sacrário imaculado de Jesus, está ao lado de Maria e José para acolher, cuidar, dar nova vida com o amor ao fraco e ao pequeno impedido de habitar o mundo.

Como servo do carisma que o compromete a dar futuro a quem não tem futuro, não tem medo de desafiar a impopularidade até o martírio, sabendo de não ficar decepcionado (Is 50, 6-7); sua boca è espada corante e seta aguçada (Is 49,2). E todavia sua firmeza em proclamar o direito de Deus è fortemente entrelaçada com a misericórdia que lhe permite de não quebrar o caniço dobrado e de não apagar a chama fumegante (Is 42,2-4). Não bajula o que o escuta nem tem medo de entrar nas suas contradições: sabe bem que o povo deve ser servido como pede o carisma e não raciocinando conforme os homens.