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3 de quaresmaEvangelho - Lc 13,1-9
1Naquele tempo, vieram algumas pessoas
trazendo notícias a Jesus
a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado,
misturando seu sangue com o dos sacrifícios que
ofereciam.
2Jesus lhes respondeu:
'Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores
do que todos os outros galileus,
por terem sofrido tal coisa?
3Eu vos digo que não.
Mas se vós não vos converterdes,
ireis morrer todos do mesmo modo.
4E aqueles dezoito que morreram,
quando a torre de Siloé caiu sobre eles?
Pensais que eram mais culpados
do que todos os outros moradores de Jerusalém?
5Eu vos digo que não.
Mas, se não vos converterdes,
ireis morrer todos do mesmo modo.'

6E Jesus contou esta parábola:
'Certo homem tinha uma figueira
plantada na sua vinha.
Foi até ela procurar figos e não encontrou.
7Então disse ao vinhateiro:
'Já faz três anos que venho procurando figos nesta
figueira e nada encontro.
Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?'
8Ele, porém, respondeu:
'Senhor, deixa a figueira ainda este ano.
Vou cavar em volta dela e colocar adubo.
9Pode ser que venha a dar fruto.
Se não der, então tu a cortarás.'
Reflexão
No Evangelho desse terceiro domingo de Quaresma Jesus conta uma parábola muito interessante. Ele utiliza a imagem da figueira que para os hebreus tinha um grande significado: “Tu os introduzirás (os israelitas), e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó Senhor, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram” (Ex 15,17). Na Bíblia a figueira (outras vezes é utilizado o termo vinha/videira) é o mesmo povo de Israel! De fato quando os israelitas serão exiliados em Babilônia se perguntarão: “Por que quebraste então os seus valados, de modo que todos os que passam por ela a vindimam? O javali da selva a devasta, e as feras do campo a devoram” (Sal 80,12-13). Portanto quando Jesus fala de uma figueira os seus interlocutores compreendem que Ele está falando deles mesmos. A primeira leitura (Ex 3,1-8a.13-15) narra um fato que qualquer jardineiro/agricultor faria: colocar as próprias plantas numa terra boa. E “o Agricultor” preparou uma terra boa para “plantar” os seus filhos, “uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3,8a). Vamos atualizá-la: Deus nos preparou uma terra para viver, uma terra acolhedora dotada de tudo aquilo que precisa não somente para sobreviver, mas para viver bem. Portanto na primeira leitura podemos ver a ternura de Deus para com os eus filhos: Deus estipulou uma aliança com todo homem (a primeira leitura do domingo passado) e desde o princípio se preocupa para que nada falte aos seus filhos. O que aconteceu depois? Os israelitas foram infiéis á aliança acabando perdendo tudo (terra, rei, templo e Jerusalém). São Paulo na segunda leitura (1Cor 6,1-6.10.12), faz uma leitura tipológica, ou seja, afirma que a história de Israel é figura da nossa história. O apóstolo dos gentíos está dizendo que na Bíblia não está escrita a história de um povo, mas aquela da humanidade toda. A dinâmica que caracterizou a vida do povo de Israel (dom-infidelidade-perca do dom-liberação-novo dom-infidelidade...), é a mesma que constitui o fil vermelho da nossa existência. Não quero dizer que também nós irémos ficar longe da nossa terra pela mão de um povo estrangeiro. Pensamos na situação atual do mundo: é como se dia após dia nós estámos construindo o nosso “exílio”. Pessoas que pelas guerras devem deixar a própria terra, as nossas cidades estão se tornando “mortais” pela polução, lugares maravilhosos destruídos pelos experimentosatômicos, os governantes que organizam encontros ambientáis sem mudar nada... Tudo isso nos levou a serem estéreis, como a figueira. E uma planta estéril só pode ser lançada fora, no fogo e queimada (Jo 15,6). E nós temos o poder de decidir se dar fruto ou se tornarem estéreis e esse poder se chama liberdade. Portanto a primeira parte do Evangelho não quer ser uma ameaça para apavorar todo o mundo, mas simplesmente quer nos lembrar o que acontece quando a humanidade quer viver colocando outras coisas no lugar de Deus. A história toda testemunha o que aconteceu quando o homem decidiu eliminar Deus (e os cristãos) da face da terra. A Quaresma é o tempo precioso para perguntar-se sobre a maneira em que estamos “cultivando” a aliança com Deus, com aquele Deus que por meio da Sua Palavra nunca se cansa de lembrar ao homem que somente colocando-o no primeiro lugar é possível extinguir aquela sede (de infinito) que inquieta o coração humano. Por isso os bons propósitos durante a Quaresma devem ter como único objetivo aquele de criar tempo e espaço no dia-a-dia para dedicá-lo a Deus. Quando na sexta-feira santa estaremos aos pés da cruz, os sentimentos que brotarão no nosso coração nos dirão se verdadeiramente teremos vivido a Quaresma ou se esse tempo passou sem deixar nada de significativo.