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Textos formativos

Formar é Fazer Crescer

Formar é Fazer Crescer A experiência de fé de quem quer ser consagrado é uma seqüela na memória de Jesus. É a vida cristã de quem tenta reproduzir a radicalidade do Evangelho: vida com Jesus, vida como a viveu Jesus. Conscientes da distância abismal entre Jesus Cristo e qualquer seu discípulo, no entanto nós devemos absolutamente crer nesta possibilidade de viver como Jesus viveu. Esta não é nem uma utopia nem retórica, pois o cristão que segue o Senhor é um homem que foi criado conforme a imagem e moldado conforme o modelo do Filho de Deus, Jesus Cristo (Colosenses 1,16-17). Viver a existência humana de Jesus é a vocação do cristão e portanto do religioso que segue as pegadas de Cristo mesmo assumindo sua forma de vida e marcada – não devemos esquecê-lo – pelo celibato e a vida comum. Mas viver uma existência humana e cristã comporta um crescimento. O apóstolo Paulo várias vezes fala do tema do crescimento, do amadurecimento, sempre evidenciando que o cumprimento é a caridade (cf. 1 Coríntios 12-13).

O cristão é chamado à plenitude da caridade através de uma busca, um caminho, um crescimento humano e espiritual que deve conduzi-lo ao homem perfeito e maduro, à medida da estatura da plenitude de Cristo. Trata-se, isto é, de crescer sob cada aspecto "até o homem perfeito, àquele desenvolvimento que realiza a plenitude do Cristo" (Efésios, 4,14). Também o apóstolo Pedro pede aos cristãos de desejar o leite espiritual não adulterado para crescer rumo à salvação (cf. 1Pedro 2,2). É citado o verbo grego crescer muito usado na parenese neotestamentária para indicar a dinâmica da vida espiritual de cada discípulo. Crescer, amadurecer é uma necessidade da vida e corresponde à vontade de Deus, o qual renunciou a ser tudo para que o homem viva na frente do homem e viva na irreduzível alteridade, possa responder a ele crescendo na LIBERDADE e no AMOR que são as duas condições essenciais para a aliança. Crescer é portanto a primeira vocação humana e espiritual e comporta dizer sim, um verdadeiro Amém a Deus na obediência filial, consentindo ao crescimento, à vida e beneficiando das energias do Espírito Santo presente como dynamis (força) da vida cristã a partir do batismo. Certamente este crescimento, este amadurecimento não está isento de problemas porque não acontece de maneira automática; há muitos obstáculos e contradições postas pelos acontecimentos da vida. Assim, crescer em estatura, em sabedoria e em graça na frente de Deus e dos homens (cf. Lucas 2,52) é um itinerário para todos fadigoso, muitas vezes de preço caro; um itinerário em que são necessárias indicações, regras, mestres que indiquem sinais, no sentido etimológico do verbo ''semain" (indicar sinais). Portanto é necessária também a formação, porque são raros os homens e as mulheres – se é que existiram – auto-didatas ou teo-didatas, isto é formados pelo próprio Deus. Na realidade o itinerário de crescimento e de formação – nunca deveríamos esquecê-lo – é um caminho pascal, associado à vida, à paixão, à morte, ressurreição de Jesus Cristo; um caminho chamado muitas vezes luta espiritual, batalha invisível. São Paulo gostava de ler a atividade como luta espiritual, mas também nossa Fundadora pensava assim (leia Escritos sobre a formação, nº14). “14. Treinem com rigor as vossas Noviças especialmente na mortificação das suas paixões, na renuncia à sua vontade, contradizendo os seus gostos, os seus desejos, as suas inclinações, até nas coisas lícitas e louváveis. Exerçam-nas na baixeza e na baixa estima de si mesmas, empenhando as mais exigentes e aquelas que vêem que se consideram mais do que as outras nos ofícios mais baixos, insignificantes e pesados da Casa, como por exemplo lavar a louça, ajudar na cozinha, lavar a roupa e guardar limpa a casa das sujeiras etc., etc. Isso até quando as verão totalmente mortas ao amor próprio, à sua soberbia e a todo outro tipo de respeitos humanos.” (cf. Escritos sobre a formação e sobre a Vida Religiosa de Paula Elisabete Cerioli, em A identidade e o socorro educativo, Cadernos para a renovação 6, p. 47 – traduzido em português e fotocopiado em livrinho, p. 5). O crescimento e a formação, enquanto tem a ver com a vida das pessoas, não dizem respeito só a um período, mas à vida toda. Se o crescimento humano e espiritual parassem, então seria de verdade difícil poder afirmar que há uma real continuação na seqüela do Senhor. Se não parar este crescimento humano e espiritual, nem a formação parará, pois este é um processo pelo qual uma pessoa é transformada na imagem de Cristo, sob a ação do Espírito Santo, ao longo de toda vida. Por acaso o Apóstolo não diz que somos chamados a sermos transformados na imagem de Cristo (cf. 2 Coríntios 3,18) num processo que deve realmente durar por toda a nossa vida? Ainda: crescimento humano e crescimento espiritual devem caminhar juntos e não podem renunciar a uma sinergia recíproca no desenvolver-se e com o passar do tempo. Se faltar um aspecto, o outro fica muito frágil e nestes casos se vai ao encontro de uma vida marcada por contradições e crises no amanhã. O OBJETIVO E O FIM PRIMÁRIO DO CRESCIMENTO E DA FORMAÇÃO É preciso realçar logo que a formação deve acontecer conforme um fim irreduzível que desde cedo deve ser explicitado e interiorizado – embora de forma germinal – por parte do formando. Este fim é representado por duas condições absolutamente necessárias que são indispensáveis já pela própria vida cristã (e poderíamos dizer: humana!). Estas condições, de fato representam o próprio fim da vida: estamos falando da liberdade e do amor. Embora pareça não ser necessário falar disso, precisa pelo contrário explicitar o quanto melhor possível este tema, porque a cultura em que vivemos não está baseada sobre estes pressupostos, mas antes sobre a idéia do "caso e necessidade''. Estes fatores seriam os que governam a vida, não o amor e a liberdade! O Cristianismo – deve ser claro! – atribui o primado da motivação para viver à liberdade e ao amor; duas palavras significativamente no centro da memória de Jesus cristo, no centro da vida cristã. Todos vocês conhecem o Evangelho e sabem como os evangelistas se esforçam de nos dizer que Jesus caminhou rumo à sua paixão e morte na liberdade e por amor; não porque o empurrava uma necessidade, uma destino, nem sequer porque aconteciam coisas por acaso. Em todas as anamneses de Cristo presentes nas anáforas eucarísticas de Oriente e Ocidente, evidencia-se que Jesus caminhou rumo à paixão e à morte assim como viveu: pela liberdade e por amor. (Na liberdade da escolha, liberdade em cumprir a vontade de Deus e por amor de Deus e de nós homens). Dou-lhes algumas citações "livremente estendeu os braços na cruz ... livremente caminhou rumo sua paixão e morte... por amor de nós, para nós, para nossa salvação..." . Estas condições de liberdade e de amor que caracterizam a vida, morte e ressurreição de Jesus, são também as condições da vida cristã e da seqüela, assim como da vida consagrada. Toda seqüela (também a da Sagrada Família) deve acontecer na liberdade do chamado, uma liberdade a fazer crescer, mas que deve estar presente em quem quer entrar no caminho da vida religiosa e deve ter como motivação determinante o amor para com o Senhor e para com os irmãos. Nas condições de liberdade de amor, a obediência ao Senhor pode ser autêntica; fora delas se torna submissão e alienação. Só na liberdade e no amor pode se acolher uma forma de vida carismática – Sagrada Família – e por conseqüência um estilo de vida. De resto esta era também a aberta e clara convicção de nossa Fundadora, convicção que podemos entender a partir das suas palavras (cf. Escritos sobre a formação, nº 54, 55, 56, 57) 54. Todo mundo tem a obrigação de cumprir bem os próprios deveres e as obrigações do próprio estado se querem salvar-se, mas nós, a mais, temos que cumpri-los com aquela exactidão e com aquela perfeição com a qual os Anjos do céu executam os seus (deveres), ou seja sob os olhos de Deus, para Deus e com Deus. O que vou dizer-lhes ainda, Noviças caríssimas, sobre o sacrifício (abnegação) inteiro e contínuo da vossa vontade e do despimento do vosso amor próprio, por que sem estes nunca conseguirão adquirir aquela perfeição à qual são chamadas pela vossa vocação. 55. O mundo não o compreende e é por isso que está em erro no que diz respeito à ideia e ao juízo que se faz sobre a vida que se conduz nas Comunidades religiosas; com efeito, se tirassem aos consagrados esse fundamento, o mundo teria razão, porque todo o sacrifício consiste na renúncia com o ânimo aos próprios desejos e o sacrifício de si mesmo e aquele lento martírio e aquela morte com a qual São Bernardo e outros Santos chamavam a vida Religiosa. 56. Meu Deus - dirão vocês - mas é possível viver como religiosa da Sagrada Família? É bem possível, com a graça do Senhor. Não queiram considerar a sua vocação um pesado fardo, porque são chamadas à liberdade dos filhos de Deus. O Senhor mesmo disse: “o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. Portanto não só é possível, mas quem a prática experimenta uma paz, uma quietude e uma alegria que são uma antecipação gostosa da felicidade do Paraíso. Com efeito a liberdade de coração, a isenção de todas as preocupações da vida, as secretas impressões da graça são os frutos dessa vida toda celeste que, enchendo a alma de uma alegria toda pura, vale cem vezes mais do que deixamos e poderíamos ter possuído. 57. Se quiserem chegar a este estado, prestem bem atenção e procurem de vos implantar bem no começo da formação, caso contrário não conseguireis ou conseguireis de maneira imperfeita, com grande dano para vós e para a comunidade. Porque, vejam, o empenho da formação pode ser comparado com aquele de começar uma construção ou um trabalho qualquer. Neste caso convém prestar atenção para começa-lo bem desde o começo, pelas conseqüências que daí poderiam derivar, porque se se intervém mais tarde o trabalho nunca poderá sair perfeito. Assim como não se pode remendar ou construir sobre o velho, porque será sempre um trabalho malfeito e será pouco resistente, porque o resultado obtido nunca será parecido a um trabalho novo não obstante os esforços para adequa-lo a ele, assim entrando na Vida Religiosa: destruem e deixem o vosso espírito, ponham os alicerces sobre o espírito que encontrareis na Congregação. Assim construireis bem, solido e resistente.(cf. idem, p. 20-21). Só assim pode-se perseguir o caminho exigente e cheio de cobranças que se concluem na palavra renúncia total. A vida cristã e religiosa desligada do amor e da liberdade é só um absurdo e neurose! É preciso insistir na questão da renúncia porque hoje em dia corre-se o grande risco de trair as jovens gerações não apresentando com clareza o fim da vida cristã: na liberdade e com o amor ensinados pelo Evangelho pode-se renunciar à auto-afirmação e a pretenção onipotente de consumir cada instante da vida na novidade de todos os prazeres com o correspondente esvaziamento do sentido e do fim da vida; sem eles (liberdade e amor evangélicos) o serviço, a atenção ao outro, o altruísmo e a esperança evangélicos são impossíveis, bem como a fraternidade a todo custo, o encontro e o diálogo, a companhia e o socorro para quem está sozinho, abandonado e sem futuro. Só na liberdade e no amor pode-se correr com o coração dilatado, experimentando a indizível doçura do encontro e da troca que dão vida sem raptá-la, sem turbá-la, sem deturpá-la. Certamente esta liberdade e este amor evangélicos no coração do candidato não são plenos nem definidos. Mas eles devem estar presentes como uma semente que tem a capacidade de crescer até dar fruto. De cada formando à vida religiosa deve-se esperar uma escolha livre, um ato livre que seja verdadeira resposta no amor a um chamado do senhor. O candidato não conhece todas as suas motivações que o levam para a vida religiosa; não sabe com precisão que nele moram forças secretas que o empurram para aquele tipo de escolha e que talvez sejam marcadas por uma ou mais sombras; mas se for sincero, se sentir em si o amor do Senhor, certamente poderá iniciar um caminho que o comprometerá por toda a vida até a morte, na purificação de suas escolhas, tornando-se cada vez mais livre a preço de ter que assumir aquelas sombras presentes nele e que talvez tenham tido um peso na sua escolha inicial e ao longo de sua vida de consagrado. Deus se serve também da sombra que está em nós e toda sombra esconde uma luz. Lembro este comentário de Agostinho à carta de Paulo aos Romanos: ''tudo concorre ao bem dos que amam a Deus, também o pecado cometido" ousa dizer docemente Agostinho. Neste sentido deve ser evidenciada a necessidade do Amor do Senhor, isto é dar presença de sentimentos, procura, desejo de Deus, o Deus pessoal vivente e verdadeiro e familiar, o Deus que Jesus Cristo revelou e narrou, ele imagem do Deus invisível. Não se segue Cristo por uma obra, por uma diaconia, por um projeto, mas o se segue por amor dele e por seu amor se assume uma forma de vida, uma diaconia, um ministério. No cristianismo conta amar e seguir Jesus, não outra coisa! Ele de fato quando falou da seqüela disse "por causa de mim e do Evangelho", não por causa de um ensinamento ou de uma mensagem e Ele ousou dizer palavras que turbam todo aquele que se coloca num caminho de espiritualidade não cristã: "se alguém amar o pai e a mãe mas do que a mim, não é digno de mim". Nenhum mestre nunca pediu de ser amado mais do que os laços naturais ou outros laços que temos. Jesus pelo contrário pediu isso, porque o que está no centro da seqüela é a pessoa dele. A seqüela é ser envolvidos na vida dele, até seguir o cordeiro em qualquer lugar onde ele for! FASES DO CAMINHO DO SEGUIMENTO Um caminho que faça crescer prevê um desenvolvimento por fases. A formação à vida religiosa não pode se não proceder por fases ou etapas. O POSTULANTADO: A INFORMAÇÃO A etapa formativa do Postulantado é fundamental. Ela se caracteriza antes que mais nada por um trabalho de informação a assimilar também não experiencialmente por parte dos candidatos. Este trabalho preliminar é importante porque permite ao candidato de conhecer de maneira real, simples e também rápida a forma de vida que ele pensa possível para si na realização do chamado do Senhor. Junto com a informação no Postulantado é sobretudo essencial a habilitação para o discernimento. Aprender a ver e julgar a si mesmo, a própria história e os acontecimentos colocando-se do lado de Deus é uma operação muito complexa, difícil e demorada. A verdade sobre si e sua própria história assim como a autenticidade da vocação hoje em dia emergem mais lentamente e mais para frente do que outrora. Para este discernimento sobre a vocação do candidato não é suficiente só o juízo do encarregado, mas é necessário também a contribuição de outros membros que conhecem o postulante podendo-o ver no trabalho, na escola, em realizar trabalhos e cargos comunitários da Casa. Com relação à vocação do candidato devem ser considerados alguns elementos como os seguintes: a. Relação com a família: a seqüela do Senhor, narrada e proposta nos Evangelhos evidencia sempre o abandono da casa e da família. Seguir Cristo no celibato significa abandonar a família; significa fazer realmente e concretamente este abandono (leia Escritos sobre a Formação, nº 9). 9. Logo que uma jovem aceita de entrar na Casa como Noviça, não têm que sujeitá-la logo nos primeiros dias às Regras e às provas do Noviciado: isto restringiria o coração dela com danos da paz e da satisfação que com certeza naquele momento deve experimentar entrando no estado de vida por ela desejado. Saibam considerar com bondade de animo as fraquezas comuns de todas as pessoas: ela está abandonando a Pátria, a família, a liberdade e, talvez, os pais e as comodidades. Mesmo que seja rica de virtudes e generosidade, este destaque, junto com a total diversidade de pessoas e costumes e junto com o recolhimento e silêncio que encontra na Comunidade religiosa, nos primeiros dias não pode senão levar-lhe um vazio...uma solidão...uma melancolia tão que não tem sentido aumentá-las, acrescentando as práticas do Noviciado. Por sete ou dez dias deixem a ela uma certa liberdade consigo mesma, que ela ande pela Casa e os ofícios se ela quiser, desde que não provoque distração e perturbação e desde que seja sempre acompanhada por uma sábia Noviça que neste tempo todo nunca deverá deixá-la sozinha. (cf. idem, p. 3). É no postulantado que é necessário verificar concretamente se o candidato sabe amar mais Cristo que seu pai, sua mãe, etc. A qualidade e a autenticidade para o Reino depende também do relacionamento que se sabe viver com a própria família. Decerto um relacionamento no amor e na caridade, mas absolutamente submetido ao primado do amor para Cristo. A vida consagrada não é a ocasião para uma experiência entre muitas como forma de voluntariado. Ela, enquanto é marcada pela fraternidade e pelo afeto recíproco, é uma forma de vida celibatária que se substancia e assume sempre uma certa dimensão de solidão que não se pode e não se deve absolutamente negar. Da mesma forma não se pode sustentar a posição daqueles que escolhem a vida consagrada como possível busca de afirmação e de segurança. Ser protegidos, tentar superar a própria imaturidade e insegurança é uma sedução possível na vida religiosa, mas o êxito é desastroso. b. Orientação sexual. No discernimento de uma vocação no Postulantado è preciso avaliar com cuidado a orientação sexual dos candidatos, da maneira a ajudar a escolher e assumir o celibato com a maior consciência possível da própria dominante sexual e da própria orientação sexual. Nesta avaliação os postulantes devem ser certamente ajudados a se questionar, a se treinar a dizer de maneira transparente e simples o enredo dos próprios sentimentos, dos seus afetos, das suas pulsões. A castidade, vivida só como abstinência não è garantia de um chamado ao celibato. Pode haver uma castidade que è somente uma condição ainda não provada, … E neste caso, na realidade há uma grande ameaça no caminho que se deve começar. A respeito da capacidade de viver o celibato è preciso realçar que, no Novo Testamento, o celibato è um dom, um carisma; não è algo que alguém pode assumir sempre e a toda condição por iniciativa própria. Jesus falou uma palavra clara: “poucos compreendem esta palavra, a acolhem só aqueles aos quais Deus dá a capacidade de fazê-lo” (Mt. 19,11). Não a todos è dada a capacidade de viver o celibato, mas só àqueles que receberam o dom. Quem não recebeu este dom ou carisma não deve ser encorajado numa vida de celibato e mesmo que tivesse dentro dele uns desejos de Deus, è preciso discernir bem a diferença entre seguir o Senhor num compromisso especial ou no celibato, que è uma outra coisa. c. As patologias psíquicas. O discernimento da vocação diz respeito, hoje em dia, também à dificuldade de perceber o nascer e crescer das doenças psíquicas que se manifestam de maneira mais clara e evidente depois dos trinta anos. Quem tem a responsabilidade do Postulantado deve treinar-se na observação dos candidatos no que diz respeito ao seu relacionamento com seu próprio corpo, com a comida, com o trabalho. Com esta observação podem-se reconhecer sinais premonitórios acerca de uma dificuldade de equilíbrio e de maturidade. Trata-se de um discernimento sério, porque deve dar conta da possibilidade de uma pessoa viver a vida comum, visto que q vida consagrada tem como alicerces o celibato e a vida comum. O que aparece como fragilidade deve ser cuidado e sarado pela formação humana e espiritual; mas se se tratar de patologias devem ser o quanto mais cedo consideradas e enfrentadas para avaliar se è oportuno ou não que o candidato continue aquele caminho vocacional. Na vida comum, de fato, todas as patologias de tipo psíquico são destinadas a aumentar criando grandes dificuldades para si e para os outros. Para poder viver uma vida comum séria e de qualidade è preciso avaliar se uma pessoa tem condições de assumi-la e de tomar parte a ela de maneira responsável. Muitas queixas a respeito de uma vida comum insuportável não poucas vezes dependem de algumas pessoas que de fato a impedem, a paralisam, a esvaziam porque são incapazes de vivê-la. d. A experiência do luto. Ainda com referencia à experiência do Postulantado é importante que o candidato seja ajudado a viver realmente a experiência dramática do luto, da renúncia ou real abandono a fazer por um preço caro. O candidato à vida religiosa deve tomar consciência do que deixou, sem medo. Hoje em dia a ânsia e a angústia pela escassez de vocações são más conselheiras. A tentação nos leva a acolher qualquer pessoa que bata à porta e muitas vezes também a comprometer toda uma comunidade para sustentar e envolver protetivamente com afeto e cuidado as postulantes mesmo para evitar que elas sofram o luto em relação com o que deixaram. A experiência do luto, que deverá cumprir-se completamente no noviciado, já no Postulantado deve colocar em crise a situação do homem velho até experimentar toda a dramaticidade pela perda de tudo o que se deixou e também o sentido de despimento de tudo o que se achava de possuir. O abandono da casa, da terra, da família, dos amigos e da profissão na linguagem dos Evangelhos deve ser um dado vivido que torna digno de seguir Jesus. Esta renúncia, e a consciência dela através do luto, permite de estar junto com o ´Filho do homem´ que não tem onde cair morto, de colocar a mão no arado sem virar para trás. Jesus não quis capturar seguidores, não recrutou militares, quis uns discípulos que tivessem a consciência exprimida por Pedro: "nós deixamos tudo e te seguimos", dito não como reivindicação para méritos, mas como consciência que tem-se deixado realmente algo para seguir Jesus. O que forma a identidade pessoal são as relações com a família, com os amigos, as atividades, o trabalho, etc... Agora o que forma a identidade pessoal antes de entrar na vida religiosa deve ser substituído, está perdido! Deve ser substituído com uma nova identidade (um homem novo) que não presume do passado, mas o elabora relendo-o com lucidez para deslumbrar a ação de Deus desde sempre ativa e poder assim consentir ao que Ele nos ´pro-mete´ para o futuro. O NOVICIADO: A INTEGRAÇÃO Se o Postulantado è caraterizado pela informação, pelo conhecimento, o tempo que segue deve ser caraterizado pela integração. Sobretudo o tempo do noviciado, mas deve-se compreender também o tempo do Juniorato. A integração è o esforço dos candidatos de se iniciar à Vida consagrada, de aderir concretamente ``à forma de vida do Instituto, de participar realmente de uma vida comunitária. O tempo da integração – interiorizar todos os elementos essenciais (inclusive o estilo) que caraterizam a vida consagrada de que falamos: carisma, votos, vida comum – pode ser considerado também o tempo da Epifania de si mesmos. Isto è, o tempo no qual o candidato se revela concretamente a si mesmo a respeito dos valores religiosos em questão (fé, votos, vida comum, carisma) e o tempo no qual também o Instituto, a comunidade revela si mesma para o candidato. Mas a epifania da comunidade è luz que esclarece também a realidade espiritual, humana e psíquica do próprio candidato. Antes de entrar numa comunidade de noviciado o candidato podia também ignorar-se, não se conhecer em muitos dos seus aspetos. Agora, pelo contrário, os outros o obrigam a enxergar, com sua própria presença, com sua comunicação e ele se depara com suas fraquezas, suas fragilidades, seus enigmas, sua escuridão, também seus pecados concretos. Todo mundo sebe como este momento è terrível: antes costumávamos esconder; com nossos artifícios tínhamos criado muitas mensagens (para os outros) que eram uma máscara. E achávamos de poder ignorar para sempre o que somos. Mas na experiência da vida comum religiosa descobrimos ciúmes, invejas, descobrimos que somos maus, descobrimos muitas fraquezas e insuficiências que fazem parte de nossa pessoa. Bem, não precisamos nos rebelar com histerismos ou abafamentos, com racionalizações ou atribuindo culpa aos outros. Devemos aceitar com humildade, coragem e confiança estas verdades evidenciadas pela epifania comunitária, pois è mesmo este encontro leal e sincero que pode produzir capacidade e vontade de docibilidade e, sobretudo, são e autentico afeto fraterno. Desta forma se passa com são realismo e gradualidade do eu real ao eu ideal. Os que não fazem esta passagem são os que pela vida toda sonham em ter aquela décima segunda qualidade que não têm: seria verdadeiramente feliz, eu mesmo, seria mais sereno se não tivesse Fulano ou Ciclano, se não estivesse naquela comunidade com aquela pessoa, se fizesse aquele outro serviço… O problema è parar de vez de ser espectador ideal da vida e assumi-la concretamente a partir do pouco e do possível que tem na sua frente e no qual de fato está imergido. Junto com esta imersão na realidade própria e da comunidade na qual se vive, a formação do Noviciado visa com decisão fazer entender e viver ao noviço que está entrando numa aliança de irmãos, onde è necessário capacidade de despimento e simplificação de si, se pede compromisso constante para uma comunicação do essencial (espiritual, carismático, humano) com os outros e com a comunidade. Viver-se-á na companhia dos outros visando uma fraternidade que se alimenta de sentimentos fortes (cuidado, diálogo, escuta, carisma, perdão, e paciência, confiança, alegria), e não coisas fúteis e emocionalismos baratos. No Noviciado enfim è necessário aumentar o conhecimento e a experiência do mistério cristão contido no carisma específico da Santa Família. Não todo mistério e toda imagem de Deus são úteis para alimento espiritual das pessoas consagradas. Nossa boa nova e fruto, antes que mais nada, de uma evangelização prévia de nós mesmos; se não for assim, o que poderíamos anunciar? Este mistério diz respeito à centralidade da paternidade-maternidade de Deus como ocasião de aliança inquebrantável para toda pessoa. Aliança experiencial que faz de Deus a referência íntima (e simbólica) capaz de sustentar e iluminar a orientação da vida, as provas e as derrotas, o alimento da energia espiritual de todas as motivações. A este respeito, o Noviciado è o momento privilegiado para re-definir em sentido carismático a experiência do luto de que se falava antes. A que renuncio em concreto escolhendo esta vida? O que è que perco de maneira definitiva para tornar a possui-lo “conforme o desígnio de Deus”? (Romanos, 8,28-30). È a paternidade e maternidade biológica que Deus quer nos doar de volta do jeito dele. A condição que façamos – do nosso jeito – a experiência da Mãe das Dores e depois a do Gromo, de maneira a assimilar não só a especificidade de uma castidade e pobreza ceriolianas, mas também de uma obediência intendida como atitude a se deixar guiar pela mão onipotente de Deus, antes que pelo nosso comodismo. A vida religiosa Sagrada Família não è uma obra filantrópica, nem um voluntariado de pessoas consagradas, nem uma associação de melhores. È, antes, a fraternidade familiar que ama a vida, defende a vida e grita a alegria de viver. Esta perspectiva e este horizonte não são dados uma vez por todas num determinado tempo do nosso crescimento, antes eles devem ser continuamente perseguidos e re-definidos com base nas instâncias sempre novas de nossa humanidade espiritual e do nosso apostolado. No momento em que pensamos de ser suficientemente formados e de ter apreendido suficientemente os elementos constitutivos da nossa espiritualidade e do nosso carisma, ai nos tornaremos vítimas da mediocridade e da procura de evasões. Pe. Edoardo Rota - CSF