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A CARIDADE

Procurais a união e a caridade recíproca

(S. Paula Elisabete Cerioli, Escritos de fundação, pp. 90-92)



  • Fazei de maneira que as vossas Filhas se amem entre elas, com um amor mútuo e leal, que sejam prontas em ajudar-se mutuamente, mesmo com sacrifício; que sejam gentis, afáveis, submetidas e dependentes uma da outra, sem invejas, ciúmes e sem rancores. Para manter esta união e amor mútuo, fazei de maneira que as vossas Filhas se encontrem muitas vezes unidas entre elas, sobretudo nos momentos de recreio; mudai o turno daquelas que por ofícios e empenhos nunca poderiam participar e não deixeis de fazer nada a fim de que a caridade viva e reine no Instituto, como deve reinar viva e mútua por toda a eternidade no Paraíso. Caridade, virtude pouco conhecida no mundo, mesmo entre pessoas espirituais. Fazei bem compreender às vossas Religiosas a necessidade dessa virtude sobretudo na Comunidade, porque, como todas as pessoas têm diferentes fisionomias, diz um Autor, assim também são diferentes os carácteres e as inclinações: portanto vedis a necessidade da Caridade para aproximar espíritos tão vários e diferentes. Caridade, virtude divina: laço dos corações.

  • A Caridade è aquela que alimenta as obras de misericórdia, unindo os membros de uma Comunidade em santa união para amar a Deus e, por seu amor, ajudar o próximo. Através da caridade o homem ama e une-se a Deus e nele e por ele ama o seu próximo como a si mesmo. Ma cuidai bem de fazer conhecer às vossas Filhas o que è a verdadeira Caridade que nos ensinou Jesus Cristo, porque existe uma caridade falsa, que coberta com o manto da primeira, muitas vezes nos engana, fazendo-nos trocar a aparência com a realidade com nosso perigo e dano. Alguém podeia pensar que tem caridade porque, tendo por natureza um caracter sensível, sente compaixão por cada mal do próximo, mas depois não consegue compadecer um pequeno defeito nem tolerar a mesmo mínima contrariedade. Uma outra poderia até compadecer as companheiras, mas só quando sente no animo uma disposição à paz e à tranquilidade, produzida muitas vezes por alguma satisfação e alegria própria; uma outra, porque com a mínima necessidade que percebe na irmã, corre na Superiora para pedir esta ou aquela permissão, para cobrir e ter um apoio nas suas próprias pretensões e fraquezas; uma outra compadecerá e desculpará os defeitos do próximo, mas só por um certo espirito de contradição; uma outra por uma simpatia natural; etc., etc. Nada de tudo isso, dizei a elas, è a verdadeira caridade que nos ensinou Jesus Cristo com o exemplo e as obras. “Se as vossa caridade não for maior daquela dos Escribas e Fariseus não entrareis no Reino dos Céus”.

  • A caridade, diz S. Paulo, è paciente, doce, benigna, sem inveja, sem ciúmes, sem inquietude: ela tudo crê, espera tudo, suporta tudo. Vossa caridade será verdadeira se de quem receberdes uma ofensa contracambiareis com uma cortesia e com um sorriso; se procurareis a companhia daquelas pelas quais sentis no animo repugnância e antipatia, afim de podê-la vencer e destruir; se sacrificareis os vossos gostos e inclinações, mesmo os mais santos e justos, aos desejos das vossas companheiras, sem reparar se elas o merecem ou não, se são maiores ou menores, a não ser que isso produza prejuízo para a Regra e os costumes.

  • A caridade verdadeira è quando se dispõe em julgar e condenar a si mais do que os outros. Quando se goza no próprio coração do louvor e avançamento dos outros, sem sentir nenhuma inveja, e, sentindo-a, procura-se com atos contrários de sufocá-la e reprimi-la. Quando não se critica os fatos ou os ditos dos outros nem se ouve isso dos outros, de maneira que se possa dizer de tudo como dizia-se de S. Teresa, que onde estava ela todo mundo podia estar tranquilo. A caridade è aquela que alimenta as obras de misericórdia, e torna doces as penas mesmas e os sacrifícios mesmos. Esta è a verdadeira caridade; aqui è o lugar onde, praticando-a, formar-vos-eis fortes e robustas na escola da perfeição. Ó caridade, virtude doce, virtude preciosa, virtude divina, laço dos corações, felicidade da casa religiosa! Bem-aventurada aquela Casa, aquele Instituto, onde o amor reina vivo e duradouro. O Senhor colocará nela a sua moradia; resistirá firme contra os ataques e violências dos malvados, quando quiserem perturbá-la; causará raiva aos demónios, que não poderão colocar ai a moradia, e alegria e complacência aos Anjos do Céu. Não poupeis sacrifícios e contrariedades, afim de manter sempre viva entre vós a caridade. Os vossos interesses vos impõem isso, a vossa identidade vos dá o dever de fazer isso.