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Relações escola-família

Educação e família

EDUCAÇÃO E FAMÍLIA:
UMA UNIÃO FUNDAMENTAL ?

 

Andréia Cristina Alves Pequeno1

O presente texto tem como objetivo colaborar com a discussão e reflexão sobre a interação da família
com a escola, sem ter a pretensão de esgotar o assunto. Aborda questões como o significado do
conceito de família, sua função social e os modelos nos quais se apresentam nos diferentes
momentos da história. Mudanças ocorridas no âmbito socio-econômico e político, nos últimos 20
anos, têm um rebatimento importante sobre a família brasileira. Na década de 90, temos a
aprovação de leis nacionais e elaboração de diretrizes do Ministério da Educação, cujos conteúdos
evidenciam a importância da participação da família na escola. Pontuamos alguns aspectos que
influenciam na participação da família na escola e o significado de participação.
Será possível planejar e executar o processo de educação escolar independente da questão familiar?
Como trazer a família para participar do processo ensino-aprendizagem na escola? O que fazer
quando a família não colabora? E quando a escola não colabora?
Essas questões merecem um tratamento cuidadoso, que leve em conta aspectos sociais, culturais e
legais, que não serão aqui abordados, sem que possamos aprofundá-las.
Ao longo da história brasileira a família veio passando por transformações importantes que
relacionam-se com o contexto sócio-econômico-político do país. No Brasil-Colônia, marcado pelo
trabalho escravo e pela produção rural para a exportação, identificamos um modelo de família
tradicional, extensa e patriarcal; onde os casamentos baseavam-se em interesses econômicos, que à
mulher, era destinada a castidade, a fidelidade e a subserviência. Aos filhos, considerados extensão
do patrimônio do patriarca, ao nascer dificilmente experimentavam o sabor do aconchego e da
proteção materna, pois eram amamentados e cuidados pelas amas de leite.
A partir das últimas décadas do século XIX, identifica-se um novo modelo de família. A Proclamação
da República, o fim do trabalho escravo, as novas práticas de sociabilidade com o início do processo
de industrialização, urbanização e modernização do país constituem terreno fértil para a proliferação
do modelo de família nuclear burguesa, originário da Europa. Trata-se de uma família constituída por
pai, mães e poucos filhos. O homem continua detentor da autoridade e "rei" do espaço público;
enquanto a mulher assume uma nova posição: "rainha do lar", "rainha do espaço privado da casa".
Desde cedo, a menina é educada para desempenhar seu papel de mãe e esposa, zelar pela educação
dos filhos e pelos cuidados com o lar.
No âmbito legal, a Constituição Brasileira de 1988, aborda a questão da família nos artigos 5º, 7º, 201,
208 e 226 a 230. Trazendo algumas inovações (artigo 226) como um novo conceito de família: união
estável entre o homem e a mulher (§ 3º) e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes (§ 4º). E ainda reconhece que: os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal
são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher (§ 5º).
Nos últimos vinte anos, várias mudanças ocorridas no plano sócio-político-econômico relacionadas
ao processo de globalização da economia capitalista vem interferindo na dinâmica e estrutura
familiar e possibilitando mudanças em seu padrão tradicional de organização. Conforme Pereira
(1995), as mais evidentes são:
1 Assistente Social do INES, Especialista em Serviço Social e Política Social, Mestranda em Serviço Social – ESS/UERJ
-queda da taxa de fecundidade, devido ao acesso aos métodos contraceptivos e de esterilização;
-tendência de envelhecimento populacional;
-declínio do número de casamentos e aumento da dissolução dos vínculos matrimoniais
constituídos, com crescimento das taxas de pessoas vivendo sozinhas;
-aumento da taxa de coabitações, o que permite que as crianças recebam outros valores; menos
tradicionais;
-aumento do número de famílias chefiadas por uma só pessoa, principalmente por mulheres,
que trabalham fora e têm menos tempo para cuidar da casa e dos filhos.
Ademais, é preciso ressaltar que essas mudanças não devem ser encaradas como tendências
negativas, muito menos como "doenças" ou sintomas de "crise". A idéia de crise, atualmente em
voga, pode ser enganosa. A aparente desorganização da família é um dos aspectos da reestruturação
que ela vem sofrendo, a qual se, por um lado, pode causar problemas, pode, por outro, apresentar
soluções. Trata-se, pois, de um processo contraditório que, ao mesmo tempo em que abala o
sentimento de segurança das pessoas, com a falta ou diminuição da solidariedade familiar,
proporciona também a possibilidade de emancipação de segmentos tradicionalmente aprisionados
no espaço restritivo de muitas sociedades conjugais opressoras... Com ele, também, os papéis sociais
atribuídos diferenciadamente ao homem e à mulher tendem a desaparecer não só no lar, mas
também no trabalho, na rua, no lazer e em outras esferas da atividade humana. (Pereira 1995)
Embora a cada momento histórico corresponda um modelo de família preponderante, ele não é
único, ou seja, concomitante aos modelos dominantes de cada época, existiam outros, com menor
expressão social, como é o caso das famílias africanas escravizadas. Além disso, o surgimento de uma
tendência não eliminava imediatamente a outra, prova disto é que neste início de século podemos
identificar a presença do homem patriarca, ma mulher "rainha do lar" e da mulher trabalhadora.
Assim, não podemos falar de família, mas de famílias, para que possamos tentar contemplar a
diversidade de relações que convivem em nossa sociedade. Outro aspecto a ser ressaltado, diz
respeito ao significado social da família, qual a sua razão de existência?
Segundo Kaloustian (1988), a família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da
proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma
como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e sobretudo materiais
necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel
decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e
humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se
constróem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais.
Gokhale (1980) acrescenta que a família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade
futura, mas é também o centro da vida social... A educação bem sucedida da criança na família é que
vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for adulto... A
família tem sido, é e será a influência mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do
caráter das pessoas.
Evidenciado, no nosso tipo de organização social, o papel crucial da família quanto a proteção,
afetividade e educação, onde buscar fundamentação para a relação educação escola/família? O
dever da família com o processo de escolaridade e a importância da sua presença no contexto
escolar é publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes do Ministério da Educação
aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como:
-Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º e 55.
-Política Nacional de Educação Especial, que adota como umas de suas diretrizes gerais: adotar
mecanismos que oportunizem a participação efetiva da família no desenvolvimento global do
aluno. E ainda, conscientizar e comprometer os segmentos sociais, a comunidade escolar, a
família e o próprio portador de necessidades especiais, na defesa de seus direitos e deveres.
Entre seus objetivos específicos, temos: envolvimento familiar e da comunidade no processo de
desenvolvimento da personalidade do educando.
-Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigos 1º, 2º, 6º e 12.
-Plano Nacional de Educação (aprovado pela Lei nº 10172/2007), que define como uma de suas
diretrizes a implantação de conselhos escolares e outras formas de participação da comunidade
escolar (composta também pela família) e local na melhoria do funcionamento das instituições
de educação e no enriquecimento das oportunidades educativas e dos recursos pedagógicos.
E não podemos deixar de registrar a recente iniciativa do MEC que instituiu a data de 24 de abril com
o Dia Nacional da Família na Escola. Neste, todas as escolas deveriam convidar os familiares dos
alunos para participar de suas atividades educativas, pois conforme declaração do Ministro Paulo
Renato Souza "quando os pais se envolvem na educação dos filhos, eles aprendem mais".
Relacionados os sustentáculos formais da relação família/escola/educação é importante pontuar
ainda alguns aspectos. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a família independente do
modelo como se apresente, pode ser um espaço de afetividade e de segurança, mas também de
medos, incertezas, rejeições, preconceitos e até de violência. Assim, é fundamental que conheçamos
os alunos e as famílias com as quais lidamos. Quais são suas dificuldades, seus planos, seus medos e
anseios? Enfim, que características e particularidades marcam a trajetória de cada família e
conseqüentemente, do educando a quem atendemos. Estas informações são dados preciosas para
que possamos avaliar o êxito de nossas ações enquanto educadores, identificar demandas e
construir propostas educacionais compatíveis com a nossa realidade. Em segundo lugar, na relação
família/educadores, um sujeito sempre espera algo do outro. E para que isto de fato ocorra é preciso
que sejamos capazes de construirmos coletivamente uma relação de diálogo mútuo, onde cada parte
envolvida tenha o seu momento de fala, mas também de escrita, onde exista uma efetiva troca de
saberes. A capacidade de comunicação exige a compreensão da mensagem que o outro quer
transmitir e para tal faz-se necessário o desejo de querer escutar o outro, a atenção às idéias
emitidas e a flexibilidade para recebermos idéias que podem ser diferentes das nossas. Uma atitude
de desinteresse e de preconceitos pode danificar profundamente a relação família/escola e trazer
sérios prejuízos para o sucesso escolar e pessoa dos educandos. Geralmente, a família de educandos
surdos espera e necessita da escola inúmeras informações, apoio e orientação sobre como lidar com
a situação de convívio com uma pessoa surda. A falta de atenção para esta demanda possivelmente
terá conseqüências negativas para educadores, educandos e familiares. Um outro ponto, diz respeito
a tendência que a escola tem de reduzir a família à figura materna, não propondo atividades que
envolvam a totalidade da constituição familiar, como pais, irmãos e por que não tios e avós?
Pensando na situação deste país, é real a falta de informações sobre a surdez e sua influência na vida
de uma pessoa, e a forma preconceituosa de relacionamento das pessoas ouvintes com as pessoas
surdas. Esta realidade está presente nos diversos espaços da sociedade, inclusive na família e na
escola. Assim, o direito a uma vida digna enquanto pessoas surda deve ser discutido com todos e por
todos. Por último, mas também crucial, é a questão da participação da família na escola. É preciso ter
clareza do que entendemos por participar. Será que é estar presente nas reuniões para ouvir
informações burocráticas e queixas referentes ao mau comportamento dos alunos? Será que é ter
acesso a decisões previamente estabelecidas? Será que é ajudar a organizar a festa junina da escola?
Será que é poder ouvir e falar? Será que é a possibilidade de uma ação coletivamente construída por
todas as partes envolvidas no processo ensino-aprsendizagem, na qual se compartilhar
eqüitativamente, resguardadas as particularidades dos sujeitos envolvidos, a possibilidade de
planejar, decidir e agir? Enfim, muitos podem ser o significado da palavra participar. É preciso que
conheçamos as razões pelas quais as famílias não têm correspondido ao que nós educadores
esperamos enquanto sua participação na escola. Para tal, precisamos nos despir da postura de juízes
que condenam sem conhecer as razões e incorporarmos o espírito investigador que busca as causas
para o desconhecido.

BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, A.M. de. Pensando a Família no Brasil. Da Colônia à Modernidade. Rio de Janeiro, Espaço e
Tempo, UFRJ, 1987.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8069, de julho de 1990
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial: livro 1. Brasília,
MEC/SEESP, 1994.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9424, de dezembro de 1996.
BRASIL. Plano Nacional de Educação. Brasília, MEC, 2001.
GOKHALE, S.D. A Família Desaparecerá? In Revista Debates Sociais nº 30, ano XVI. Rio de Janeiro,
CBSSIS, 1980.
KALOUSTIAN, S.M. (org.) Família Brasileira, a Base de Tudo. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF,
1988.
PEREIRA, P.A. Desafios Contemporâneos para a Sociedade e a Família. In Revista Serviço Social e
Sociedade. Nº 48, Ano XVI. São Paulo, Cortez, 1995.

A importância da família no processo de educar

A importância da família no processo de educar
A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que
experimentam a “tirania da liberdade” em que as crianças podem tudo:
gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade
complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade. (PAULO
FREIRE, 2000)

 

A sociedade moderna vive uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Essa é uma constatação
que nada tem de original, pois todos a estão percebendo e vivenciando de alguma maneira. O fato de ser
uma professora a fazer essa constatação também não é nenhuma surpresa, pois é na escola que essa crise
acaba, muitas vezes, ficando em maior evidência.
Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como falta de limites, desrespeito na sala de aula e
desmotivação dos alunos. Nunca se observou tantos professores cansados, estressados e, muitas vezes,
doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de impotência e frustração estiveram tão
marcantemente presentes na vida escolar.
Para Esteve (1999), toda essa situação tem relação com uma acelerada mudança no contexto social.
Segundo ele, nosso sistema educacional, rapidamente massificado nas últimas décadas, ainda não dispõe de uma capacidade de reação para atender às novas demandas sociais. Quando consegue atender a uma
exigência reivindicada imperativamente pela sociedade, o faz com tanta lentidão que, então, as demandas
sociais já são outras (1999: 13).
Por essa razão, dentro das escolas as discussões que procuram compreender esse quadro tão complexo e,
muitas vezes, caótico, no qual a educação se encontra mergulhada, são cada vez mais freqüentes.
Professores debatem formas de tentar superar todas essas dificuldades e conflitos, pois percebem que se
nada for feito em breve não se conseguirá mais ensinar e educar. Entretanto, observa-se que, até o
momento, essas discussões vêm sendo realizadas apenas dentro do âmbito da escola, basicamente
envolvendo direções, coordenações e grupos de professores. Em outras palavras, a escola vem,
gradativamente, assumindo a maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito que nela são
observadas.
Assim, procura-se em novas metodologias de trabalho, por exemplo, as soluções para esses problemas.
Computadores e programas de última geração, projetos multi e interdisciplinares de todos os tipos e para
todos os gostos, avaliações participativas, enfim uma infinidade de propostas e atividades visando a,
principalmente, atrair os alunos para os bancos escolares. Não é mais suficiente a idéia de uma escola na
qual o individuo ingressa para aprender e conhecer. Agora a escola deve também entreter.
No entanto, apesar das diferentes metodologias hoje utilizadas, os problemas continuam, ou melhor, se
agravam cada vez mais, pois além do conhecimento em si estar sendo comprometido irremediavelmente, os
aspectos comportamentais não têm melhorado. Ao contrário. Em sala de aula, a indisciplina e a falta de
respeito só têm aumentado, obrigando os professores a, muitas vezes, assumir atitudes autoritárias e
disciplinadoras. Para ensinar o mínimo, está sendo necessário, antes de tudo, disciplinar, impor limites e,
principalmente, dizer não.
A questão que se impõem é: até quando a escola sozinha conseguirá levar adiante essa tarefa? Ou melhor,
até quando a escola vai continuar assumindo isoladamente a responsabilidade de educar?
São questões que merecem, por parte de todos os envolvidos, uma reflexão, não só mais profunda, mas
também mais crítica. É, portanto, necessário refletir sobre os papéis que devem desempenhar nesse
processo a escola e, conseqüentemente, os professores, mas também não se pode continuar ignorando a
importância fundamental da família na formação e educação de crianças e adolescentes.
Voltando a analisar a sociedade moderna, observa-se que uma das mudanças mais significativas é a forma
como a família atualmente se encontra estruturada. Aquela família tradicional, constituída de pai, mãe e
filhos tornou-se uma raridade. Atualmente, existem famílias dentro de famílias. Com as separações e os
novos casamentos, aquele núcleo familiar mais tradicional tem dado lugar a diferentes famílias vivendo sob
o mesmo teto. Esses novos contextos familiares geram, muitas vezes, uma sensação de insegurança e até
mesmo de abandono, pois a idéia de um pai e de uma mãe cuidadores dá lugar a diferentes pais e mães
“gerenciadores” de filhos que nem sempre são seus.
Além disso, essa mesma sociedade tem exigido, por diferentes motivos, que pais e mães assumam
posições cada vez mais competitivas no mercado de trabalho. Então, enquanto que, antigamente, as
funções exercidas dentro da família eram bem definidas, hoje pai e mãe, além de assumirem diferentes
papéis, conforme as circunstâncias saem todos os dias para suas atividades profissionais. Assim, observase
que, em muitos casos, crianças e adolescentes acabam ficando aos cuidados de parentes (avós, tios),
estranhos (empregados) ou das chamadas babás eletrônicas, como a TV e a Internet, vendo seus pais
somente à noite.
Toda essa situação acaba gerando uma série de sentimentos conflitantes, não só entre pais e filhos, mas
também entre os próprios pais. E um dos sentimentos mais comuns entre estes é o de culpa. É ela que, na
maioria das vezes, impede um pai ou uma mãe de dizer não às exigências de seus filhos. É ela que faz um
pai dar a seu filho tudo o que ele deseja, pensando que assim poderá compensar a sua ausência. É a culpa
que faz uma mãe não avaliar corretamente as atitudes de seu filho, pois isso poderá significar que ela não
esteve suficientemente presente para corrigi-las.
Enfim, é a culpa de não estar presente de forma efetiva e construtiva na vida de seus filhos que faz, muitas
vezes, um pai ou uma mãe ignorarem o que se passa com eles. Assim, muitos pais e mães acabam
tornando-se reféns de seus próprios filhos. Com receio de contrariá-los, reforçam atitudes inadequadas e,
com isso, prejudicam o seu desenvolvimento, não só intelectual, mas também, mental e emocional.
Esses conflitos acabam agravando-se quando a escola tenta intervir. Ocorre que muitos pais, por todos os
problemas já citados, delegam responsabilidades à escola, mas não aceitam com tranqüilidade quando
essa mesma escola exerce o papel que deveria ser deles. Em outras palavras,
[...] os pais que não têm condições emocionais de suportar a sua parcela de responsabilidade, ou culpa,
pelo mau rendimento escolar, ou algum transtorno de conduta do filho, farão de tudo, para encontrar
argumentos e pinçar fatos, a fim de imputar aos professores que reprovaram o aluno, ou à escola como um
todo, a total responsabilidade pelo fracasso do filho (ZIMERMAN apud BOSSOLS, 2003: 14).
Assim, observa-se que, em muitos casos a escola (e seus professores) acaba sendo sistematicamente
desautorizada quando, na tentativa de educar, procura estabelecer limites e responsabilidades. O resultado
desses sucessivos embates é que essas crianças e adolescentes acabam tornando-se testemunhas de um
absurdo e infrutífero cabo-de-guerra, entre a sua escola e a sua família. E a situação pode assumir uma
maior complexidade porque, conforme também explica Zimerman, “o próprio aluno, que não suporte
reconhecer a responsabilidade por suas falhas, fará um sutil jogo de intrigas que predisponha os pais contra
os professores e a escola” (apud BOSSOLS, 2003: 14).
Entretanto, é importante compreender que, apesar de todas as situações aqui expostas, o objetivo não é o
de condenar ou julgar. Está-se apenas demonstrando que, ao longo dos anos, gradativamente a família, por
força das circunstâncias já descritas, tem transferido para a escola a tarefa de formar e educar. Entretanto,
essa situação não mais se sustenta. É preciso trazer, o mais rápido possível, a família para dentro da
escola. É preciso que ela passe a colaborar de forma mais efetiva com o processo de educar. É preciso,
portanto, compartilhar responsabilidades e não transferi-las.
É dentro desse espírito de compartilhar que não se pode deixar de citar a iniciativa do MEC, que instituiu a
data de 24 de abril como o Dia Nacional da Família na Escola. Nesse dia, todas as escolas são estimuladas
a convidar os familiares dos alunos para participar de suas atividades educativas, pois segundo declaração
do ex-Ministro da Educação Paulo Renato Souza "quando os pais se envolvem na educação dos filhos, eles
aprendem mais".
A família deve, portanto, se esforçar em estar presente em todos os momentos da vida de seus filhos.
Presença que implica envolvimento, comprometimento e colaboração. Deve estar atenta a dificuldades não
só cognitivas, mas também comportamentais. Deve estar pronta para intervir da melhor maneira possível,
visando sempre o bem de seus filhos, mesmo que isso signifique dizer sucessivos “nãos” às suas
exigências. Em outros termos, a família deve ser o espaço indispensável para garantir a sobrevivência e a
proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como se
vêm estruturando (KALOUSTIAN, 1988).
Educar, portanto, não é uma tarefa fácil, exige muito esforço, paciência e tranqüilidade. Exige saber ouvir,
mas também fazer calar quando é preciso educar. O medo de magoar ou decepcionar deve ser substituído
pela certeza de que o amor também se demonstra sendo firme no estabelecimento de limites e
responsabilidades. Deve-se fazer ver às crianças e jovens que direitos vêm acompanhados de deveres e
para ser respeitado, deve-se também respeitar.
No entanto, para não tornar essa discussão por demais simplista, é importante, entender, que quando se
trata de educar não existem fórmulas ou receitas prontas, assim como não se encontra, em lugar algum,
soluções milagrosas para toda essa problemática. Como já foi dito, educar não é uma tarefa fácil; ao
contrário, é uma tarefa extremamente complexa. E talvez o que esteja tornando toda essa situação ainda
mais difícil seja o fato de a sociedade moderna estar vivendo um momento de mudanças extremamente
significativas.
Segundo Paulo Freire: “A mudança é uma constatação natural da cultura e da história. O que ocorre é que
há etapas, nas culturas, em que as mudanças se dão de maneira acelerada. É o que se verifica hoje. As
revoluções tecnológicas encurtam o tempo entre uma e outra mudança” (2000: 30). Em outras palavras,
está-se vivendo, em um pequeno intervalo de tempo, um período de grandes transformações, muitas delas
difíceis de serem aceitas ou compreendidas. E dentro dessa conjuntura está a família e a escola. Ambas
tentando encontrar caminhos em meio a esse emaranhado de escolhas, que esses novos contextos, sociais,
econômicos e culturais, nos impõem.
Para finalizar esse texto é importante fazer algumas considerações que, se não trazem soluções definitivas,
podem apontar caminhos para futuras reflexões. Assim, é preciso compreender, por exemplo, que no
momento em que escola e família conseguirem estabelecer um acordo na forma como irão educar suas
crianças e adolescentes, muitos dos conflitos hoje observados em sala de aula serão paulatinamente
superados. No entanto, para que isso possa ocorrer é necessário que a família realmente participe da vida
escolar de seus filhos. Pais e mães devem comparecer à escola não apenas para entrega de avaliações ou
quando a situação já estiver fora de controle. O comparecimento e o envolvimento devem ser permanentes
e, acima de tudo, construtivos, para que a criança e o jovem possam se sentir amparados, acolhidos e
amados. E, do mesmo modo, deve-se lutar para que pais e escola estejam em completa sintonia em suas
atitudes, já que seus objetivos são os mesmos. Devem, portanto, compartilhar de um mesmo ideal, pois só
assim realmente estarão formando e educando, superando conflitos e dificuldades que tanto vêm
angustiando os professores, como também pais e os próprios alunos.


Margarete J. V. C. Hülsendeger