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17
 
Jo 2,1-11
 
Naquele tempo:
1Houve um casamento em Caná da Galiléia.
A mãe de Jesus estava presente.
2Também Jesus e seus discípulos
tinham sido convidados para o casamento.
3Como o vinho veio a faltar,
a mãe de Jesus lhe disse:
'Eles não têm mais vinho'.
4Jesus respondeu-lhe:
'Mulher, por que dizes isto a mim?
Minha hora ainda não chegou.'
5Sua mãe disse aos que estavam servindo:
'Fazei o que ele vos disser'.

6Estavam seis talhas de pedra colocadas aí
para a purificação que os judeus costumam fazer.
Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros.
7Jesus disse aos que estavam servindo:
'Enchei as talhas de água'.
Encheram-nas até a boca.
8Jesus disse:
'Agora tirai e levai ao mestre-sala'.
E eles levaram.
9O mestre-sala experimentou a água,
que se tinha transformado em vinho.
Ele não sabia de onde vinha,
mas os que estavam servindo sabiam,
pois eram eles que tinham tirado a água.
10O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse:
'Todo mundo serve primeiro o vinho melhor
e, quando os convidados já estão embriagados,
serve o vinho menos bom.
Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!'
11Este foi o início dos sinais de Jesus.
Ele o realizou em Caná da Galiléia
e manifestou a sua glória,
e seus discípulos creram nele.
 
Reflexão
 
Terminadas as festas natalinas recomeça o Tempo Comum e o erro é pensar que o Natal pertence ao passado, como um velho encadernador colocado no arquivo. Na realidade há uma relação entre Tempo de Natal e Tempo Comum. No comentário da Epifania escrevi que esse “recomeçar” é um novo inicio. No quarto versículo do Evangelho de hoje há uma palavra que pode nos ajudar na reflexão. Durante as núpcias de Caná, Jesus responde á sua mãe que lhe tinha perguntado ajuda: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4). A palavra hora no quarto Evangelho é um dos termos mais importantes. No grego, o idioma original dos Evangelhos, há duas palavras para indicar o tempo. κρόνος (krónos) indica o tempo num sentido quantitativo e καιρός (kairós) num sentido qualitativo. Quando um grego não quer indicar o tempo normal, mas um momento especial em que vai acontecer algo de muito particular, utiliza o termo “kairós”. Portanto a “hora” de Jesus é aquele momento particular, aquele “kairós”, onde Ele irá realizar a vontade do Pai através da paixão, morte e ressurreição. Tentamos traduzir tudo isso na nossa vida. As festas natalinas nos trouxeram uma boa nova: o Deus de Jesus Cristo não está longe de nós, Ele tem o rosto de um pai misericordioso e através de seu Filho se tornou próximo de todo homem. Podemos considerar a Encarnação como um “kairós”: um acontecimento tão extraordinário que há em si o poder de mudar o tempo sucessivo. A liturgia durante as festas nos propôs por três vezes o Prólogo do quarto Evangelho. Aos versículos quatro e cinco (“O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” Jo 1,4-5), encontramos a figura da luz aplicada á pessoa de Jesus o Verbo. O Natal representa a vinda dessa “Luz” no mundo, uma luz que há o poder de iluminar tudo e todos porque é “a luz dos homens” (Jo 1,4). Todos aqueles que a acolheram receberam dela “o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). Podemos considerar a vinda dessa “Luz” como um momento particular, um “kairós”, que há o poder de mudar o tempo sucessivo (a nossa vida)? Só a fé possui essa resposta, portanto cabe a cada um de nós perguntar-se: o que representou para mim o Natal? Se o Natal representou verdadeiramente a vinda daquela “Luz” não é possível considerá-lo somente um acontecimento passado. Tornar-se “filhos de Deus” é uma coisa tão grande que poderia ser representada como uma reviravolta; nada pode ser como antes. O Evangelho de hoje contem uma linda figura para nos explicar este conceito: a água e o vinho. As seis talhas de pedra (v.6) correspondem a uma prática religiosa só exterior, que não tem a ver com o interior da pessoa ficando incompleta. Jesus é a luz que veio para transformar a água das nossas vidas tristes e cansadas no vinho de uma existência nova, renovada pelo Espírito Santo. È como se a liturgia nos desse uma segunda possibilidade: no começo do Tempo Comum ela nos lembra, através do evangelista João, o significado do Natal. È como se nos dissesse: “O Natal é tão importante pela vida de todo homem que no começo do Tempo Comum quero lembrar-te o seu significado, para que tu possas viver melhor o tempo que está na tua frente”. O Evangelho de hoje descreve também como muda a vida quando se acolhe esse “kairós”: “Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória e seus discípulos creram nele” (Jo 2,11). Começando a crer a vida fica iluminada, transformada e transfigurada, porque pelo quarto Evangelista “crer” é uma experiência que meche com todas as dimensões da pessoa. Podemos concluir que Deus se comprometeu com o homem e o seu maior desejo e que o homem também se comprometa com Ele. A nossa resposta será a cor que dará a tonalidade á nossa vida.