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Evangelho - Mt 5,1-12a

 
Alegrai-vos e exultai, porque será
grande a vossa recompensa nos céus.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 5,1-12a


Naquele tempo:
1Vendo Jesus as multidões,
subiu ao monte e sentou-se.
Os discípulos aproximaram-se,
2e Jesus começou a ensiná-los:
3"Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o Reino dos Céus.
4Bem-aventurados os aflitos,
porque serão consolados.
5Bem-aventurados os mansos,
porque possuirão a terra.
6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
7Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
8Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus.
9Bem-aventurados os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
10Bem-aventurados os que são perseguidos
por causa da justiça,
porque deles é o Reino dos Céus.
11Bem-aventurados sois vós, 
quando vos injuriarem e perseguirem,
e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós,
por causa de mim.
12aAlegrai-vos e exultai,
porque será grande a vossa recompensa nos céus.
Palavra da Salvação.

 

 

Reflexão

O Evangelho “das bem-aventuranças” que a liturgia nos propõe nos ajuda a compreender o que significa a palavra “santidade” e como viveram os santos. Mas como é possível chamar de bem-aventurado quem é pobre, aflito, faminto, perseguido, injuriado? “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra” (Is 55,8-9). Precisamos, portanto, compreender qual é a lógica que está atrás deste discurso de Jesus. Quereria compartilhar com todos vocês algumas reflexões de Bruno Maggioni (italiano, sacerdote da diocese de Como), as quais possuem uma profundidade extraordinária. Por primeiro temos de entender que o conceito fundamental é o da “primazia de Deus”. As bem-aventuranças não são só uma introdução, mas também um discurso programático, o “manifesto” para sublinhar a originalidade dos discípulos de Jesus. È um convite a procurar uma perfeição que encontra a própria medida e justificação na de Deus (Lv 19,2; Mt 5,47-48). Esta perfeição é a totalidade da dedicação a Deus e aos homens. O termo de comparação que determina a perfeição é o comportamento de Deus e não uma idéia de homem, ou seja, não olhar a si mesmo para estabelecer a direção e a medida do próprio viver, mas olhar a Deus, para depois observar os outros e o mundo. As bem-aventuranças não descrevem oito figuras diferentes, mas uma só: a de Jesus Cristo que não somente as proclamou, mas antes de tudo as viveu e os santos se colocaram neste caminho que Jesus nos abriu, o caminho para chegar até o Pai: a santidade. Qual é o caminho e o exemplo que Jesus nos mostrou? O homem não é feito para possuir-se ou conservar-se, mas para entregar-se e doar-se; esta é a idéia de homem que as bem-aventuranças querem transmitir. Tendo como “painel de fundo” estas diretrizes vamos analisar algumas bem-aventuranças para entender quais foram os valores que tornaram extraordinárias as vidas dos santos. O pobre em espírito é aquele que confia em Deus (Sf 3,12); o centro não é a pobreza material, mas a dependência e a confiança total em Deus. Este é o pobre que ama Deus e sobre o qual Deus mantém os olhos fixos (Is 66,2). È por isso que o pobre é bem-aventurado. Os que têm fome e sede de justiça são aqueles que vivem procurando apaixonadamente a vontade de Deus, porque a “justiça” é a vontade de Deus. As duas metáforas da fome e da sede significam a totalidade da busca de Deus. Bem-aventurado é quem emprega tudo o próprio ser na busca de Deus (Mt 6,33). Os puros de coração são aqueles que sabem onde buscar a vontade de Deus e conseguem chegar até o centro; ao contrário, quem não é puro de coração se perde nas minúcias, perdendo o centro e ficando dividido. Ser misericordiosos, promover a paz, ser perseguidos são os lugares onde “dar forma” ao reconhecimento da primazia de Deus. A misericórdia “identifica” Deus e por isso quem a vive se torna sinal da presença d’Ele; a paz é o exemplo do compromisso da solidariedade e a perseguição até o martírio indica a medida deste compromisso. O homem das bem-aventuranças lê numa maneira nova as situações do presente porque confia numa promessa que vai além do mundo presente: Deus é o tudo e não o mundo. Tudo isso foi vivido pelos santos, mas a coisa mais “extraordinária’ é que tudo isso não é só pelos sacerdotes, religiosos, missionarios: é também por todos nós. Cada um de nós pode tornar-se santo na própria situação de pai, mãe, estudante, trabalhador... Em toda situação é possível andar pelo caminho que Jesus nos deixou e que já foi percorrido pelos santos. A Constituição Dogmatica “Lumen Gentium” (Concílio Vaticano II), diz: “Por isso, todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1Tess 4,3; cfr. Ef 1,4).Esta santidade da Igreja incessantemente se manifesta, e deve manifestar-se, nos frutos da graça que o Espírito Santo produz nos fiéis; exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que, NO SEU ESTADO DE VIDA, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo; [...] Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus, não por merecimento próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos. É necessário, portanto, que, com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam. O Apóstolo admoesta-os a que vivam acorro convém a santos» (Ef. 5,3), acorro eleitos e amados de Deus, se revistam de entranhas de misericórdia, benignidade, humildade, mansidão e paciência» (Col. 3,12) e alcancem os frutos do Espírito para a santificação (cfr. Gál. 5,22; Rom. 6,22). E porque todos cometemos faltas em muitas ocasiões (Tg. 3,2), precisamos constantemente. da misericórdia de Deus e todos os dias devemos orar: «perdoai-nos as nossas ofensas» (Mt. 6,12). É, pois, claro a todos, que os cristãos DE QUALQUER ESTADO OU ORDEM, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano. Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que as dá Cristo, a fim de que, seguindo as Suas pisadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do Povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos(LG 39-40). A primeira leitura confirma isso: João viu “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas e que ninguém podia contar” (Ap 7,9). A segunda leitura nos diz qual será a conclusão deste caminho: “[...] quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1Jo 3,2). Semelhantes a Jesus!!! Semelhantes a Deus!!! Verdadeiramente, como diz São Paulo: “o que os olhos não viram e o coração do homem não percebeu, foi isso que Deus preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9). (Luca Bergamaschi).