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32º DOMINGO 1 noviem 8Mc 12, 38-44
Naquele tempo: Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão:
'Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação'. Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas,
e observava como a multidão depositavasuas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: 'Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra,
enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver'. Palavra da Salvação.
Nas três leituras há uma figura que para mim pode ajudar para alcançar o centro da mensagem evangélica desse domingo: a viúva. Por primeiro é preciso perguntar-se: quem era a viúva? A viúva e o órfão eram na Bíblia as pessoas mais desamparadas. Perdendo o marido a viúva perdia também a fonte de sustentação, ficando sozinha e sem recursos para continuar a viver.
Quando Israel entra na terra prometida e começa a regulamentar o dia-a-dia, as viúvas são as pessoas que devem ser tuteladas numa maneira particular pela Lei (Ex 22,21-23). Na predicação dos profetas a viúva é presente com muita insistência como a categoria que deveria ser mais protegida pelo rei (Is 1,17). Jesus também teve uma compaixão particular pela viúva de Naim (Lc 7,11-17). Porque sublinhar com insistência uma categoria socialmente marginal e sem importância alguma? No Evangelho Jesus elogia a viúva porque fez uma oferta. Tudo aqui? Fazer uma oferta no templo não é nada de especial e as outras pessoas oferecem bem mais do que a viúva (v.41). Será que a Jesus não lhe importa do gesto material? Tendo como pano de fundo esta pergunta vamos fazer uma comparação entre os doutores da Lei, que aparecem na primeira parte (vv.38-40), e a viúva que se torna a protagonista da segunda parte (vv.42-44). Os doutores da Lei eram considerados os máximos expertos da Torah, a Lei de Israel; ninguém conhecia tão bem como eles a legislação até nos mínimos particulares, por isso o povo chamava-os de “mestres” (Jo 3,10). Portanto se poderia dizer que eles eram as pessoas mais próximas de Deus. Porém Jesus os repreende. Pode existir uma relação entre duas pessoas se uma das duas não se mexe? Isso aconteceu com os doutores da Lei. Eles eram de verdade expertos na Lei, mas para eles a religião era só um discurso de pratica exterior: uma vez cumpridos os preceitos Deus não pode dizer mais nada, porque aquilo que deveria ser feito foi cumprido. Assim os ricos que depositavam grandes quantias de moedas no tesouro do templo (v.41b): eles só colocavam o supérfluo, ou seja, o “superficial”. Ao contrário a viúva de Sarepta, na primeira leitura, deve renunciar ao pão e ao azeite que lhe eram necessários para sobreviver, para oferecê-los a Elias. Na mesma maneira a viúva do Evangelho colocou no tesouro as poucas moedas que para elas significavam a sobrevivência. As duas viúvas se “mexeram”. Pode-se perceber a grande diferença entre os duos comportamentos. E nós? Jesus apresenta os doutores da Lei e a viúva, comentando os dois, mas deixa que sejamos nós a concluir o discurso. A beleza da Bíblia é que os seus textos são “abertos” porque é o leitor que é chamado a “escrever” o final! Portanto cada um neste momento deveria perguntar-se: a minha pratica religiosa é somente exterioridade (por exemplo, ir a missa no domingo só para cumprir um preceito), ou é expressão de uma verdadeira relação de amor com Deus? O nome “Deus” é uma palavra entre as muitas, ou significa o encontro com o Cristo ressuscitado que da uma “reviravolta” na minha vida? Deus decidiu livremente de revelar-se aos homens, mas não fez algo de exterior; ao contrário enviou o Filho unigênito (Jo3,16), o que tinha de mais valioso, porque olhando a relação de amor entre Ele e o Pai, os homens aprendessem o que significa amar e a reconhecer Deus como Pai. Tudo isso pode se concretizar num relacionamento que não chama em causa “o coração”? As moedas são símbolo da nossa interioridade: acreditamos de verdade que Deus é importante depositando no altar da vida até a última moeda do nosso ser, ou achemos que para viver bem não precisa mexer-se muito “jogando” só o mínimo necessário. No amor se ganha só quando se doa sem reservas, próprio como fez um “homem” dois mil anos atrás na cruz...